a Sobre o tempo que passa: Poucos têm "mata-mata" (inteligência) para admitir o "ukun rasik an"(ordem própria) de cada povo

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

13.12.08

Poucos têm "mata-mata" (inteligência) para admitir o "ukun rasik an"(ordem própria) de cada povo


Começa a contagem descendente, começa a compreensão do que só é captável pelo espírito, do que só é navegável pela metafísica, por uma hermenêutica mais íntima, profunda e mesmo mítica, como leio no trabalho de um aluno. Porque há Lel Mau-Tar, o Sol, o ente radiante, o juiz último cujos raios chegam a todo o cantinho da Terra, iluminando e desvendando, com minúcia, toda a verdade, e nada deixando oculto ou camuflado. Ai de quem não chegue a esta tradição oral mambae, que não assuma Maromak gia tsu. Só assim pode sentir-se a continuação do novo cancioneiro de Timor que vai bem além do tetum para turista em comissão de serviço paga em USD, ou para empregado das ONGs, em carreirismo de factura:

Rogamos às raízes
para que elas penetrem na terra,
aos botões para que ascendam aos céus,
...
àqueles que nos esconderijos e nos ermos
estarão sempre acompanhados,
a vossa busca
do que visa o progresso
tem de ir avante.

Confesso que me bastam meia dúzia de trabalhos de alunos com estas recolhas sobre a justiça e o político no pré-estadual do timorense, para me sentir um professor que aqui veio aprender, isto é, para me sentir verdadeiramente professor. E também para me reconhecer ineficaz, se ousasse bater à porta dos emissores globalizantes do rolo unidimensional do neocolonialismo, para que eles nos subsidiassem a lançar a resistência deste aceder ao universal pela diferença. Os paineleiros preferem os mercenários de Sarawak e os que desiberizaram em 1898 Cuba e as Filipinas e que agora emitem PHDs para que fiquemos terceiromundizados em vassalagem, vergonha e política da canhoneira.  Que lhes interessa que o ga'u vanu mi sirva para manter a harmonia entre a comunidade e a natureza, entre a comunidade e o ancestral no mundo inivisível. Interessa-lhes mais pentear macacos e traduzir em calão constituições que nem o pluralismo da autonomia dos Açores conseguem captar criativamente.

PS: A imagem podia ser do Corvo e das Flores. É apenas do mar-mulher a caminho de Manatuto.  Os crocodilos preferem passear pelo mar-homem, lá do outro lado da montanha. As incompreensões sobre as autonomias são exactamente as mesmas e os jacobinos não há meio de se aliarem aos girondinos na festa da federação, relendo Althusius, Teófilo Braga ou até Proudhon e Rougemont...