a Sobre o tempo que passa: Chutos, pontapés e mesa do orçamento, onde não há almoços gratuitos. Só falta o churrasco...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

12.3.09

Chutos, pontapés e mesa do orçamento, onde não há almoços gratuitos. Só falta o churrasco...


Mais um dia, depois da intervenção cuidada que, ontem, foi emitida pela líder da oposição, mas ainda sem o conforto do seu vice, Rui Rio, depois do ministro Silva lhe responder, sem a poder ter ouvido, depois de Candal pai voltar ao mediático, propondo uma versão malhão dos chutos, com pantapés à DREN, isto é, demontrando como o situacionismo acossado e crispado sofre da doença do intendente, do processo disciplinar agudo. Felizmente que não há gulags, nem clínicas de internamento psiquiátrico e que as medidas de segurança já não são as delineadas por Cavaleiro Ferreira. Mas a mentalidade do estadão continua a viver em regime de autarcia, olhando apenas para o umbigo face ao indiferentismo de tantos macacos cegos, surdos e mudos. Porque, seja a hierarquia eclesiástica, seja a hierarquia do ministerialismo, todos vão declarando que quem se mete com os poderes leva, bem que seja pagamentos de almoços não gratuitos, para utilizar a expressão sibilina de um dos rostos da universidade concordatária.

Claro que Candal não merece dialéctica. Mas merece comparação. Porque da última vez em que foi autêntico, foi expressamente desautorizado por Guterres. Agora, só o ministro Silva disse que nada tem a dizer. Alegre é, de facto, um rebelde e, na última entrevista ao "Expresso" apenas declarou o que já fez, quando se candidatou como independente à presidência da república, contra o PS e o respectivo candidato. E teve mais votos e não teve então o adequado processo disciplinar, porque o povo, que é quem mais ordena, mandou arquivar o dito.

Terei apenas de concluir que tratar de política e de partidos, onde há pluralidades de conflitos institucionalizados, como numa democracia, não é o mesmo do que a dependência hierarquista de uma estrutura eclesiástica e o verticalismo da administração pública directa. Mesmo organismos públicos com chefias eleitas não obedecem aos mesmos processos de hierarquismo, dado que havendo cidadania e participação, os opositores aos chefes que nascem de uma disputa, não podem suspender a cidadania de quem os critica. Mas não tardará que os pequenos chefes do micro-autoritarismo sub-estatal, perantes estes exemplos que vêem de cima, entrem em delírio e qualquer dia, processam disciplinarmente os opositores e os dissidentes e até podem emitir diplomas regulamentares que os declarem inelegíveis, para que todos voltemos ao tempo dos grupos unânimes numa opinião ou num hábito, a que normalmente chamamos rebanho.

Candal é mais um que diz o que sempre disse. Não merece dialéctica. Mas o silêncio dos dirigentes supremos do PS sobre a matéria, apenas quer dizer que o unanimismo gera sempre este centralismo democrático, onde apenas são premiados os antigos opositores que se passem para a grande união nacional, onde todos e cada um não são demais para aquele servir onde cabem adesivos e viracasacas. Não há opositor que não passe à respeitabilidade situacionista, se sentar como comensal na mesa do orçamento...