Não! Não foi por isso que um povo inteiro fez o 25 de Abril e o 25 de Novembro. Não foi para que confudíssemos os nomes com as coisas nomeadas. Não foi para que chegássemos a mais de uma centena de instituições do ensino superior públicas que, mesmo com os valores das propinas individualmente pagas, correm a desvergonha de terem que andar com a mão estendida para o despacho ministerial, bem como com o cálculo carreirista de escolha eleitoral para as chefias que mais lhe prometerem o sonhar é fácil, assim perdidas entre neocorporativismos e endogamias,as mesmas que bem precisavam de um qualquer banho que atirasse borda fora a água suja, conservando a ideia de obra, as manifestações de comunhão e o respeito pelo Estado de Direito. Bastava, aliás, copiar os modelos de estrutura dos vizinhos mais competitivos da Europa, os que não as fragmentaram numa centena de quintarolas, neofeudalmente organizadas em centros de poder não previstos na Constituição ou nas leis de bases.
Não foi para termos casos como os da "Casa Pia", da "Maddie", do "BCP", do "BPP", do "BPN" e do "Freeport" que um povo inteiro aderiu à democracia pluralista e à sociedade aberta. Não, não é para isso que temos eleições europeias, às quais, certamente só comparecerá metade do eleitorado que costuma ir às legislativas, talvez para continuar a punir o poder instalado, sobretudo depois da ilusão que foi a cimeira de Londres do G20. Porque o nosso principal partido da oposição, se se assumir como efectiva oposição ao bloco central de interesses, pode não sonhar com um empate, caso não pense que ganhar o jogo é utilizar a técnica da falta de mobilização popular no apoio ao situacionismo.
Não foi para isso que fizemos o 25 de Abril. Para que os partidos se pareçam, cada vez mais, com os nossos clubes de futebol, mas sem que nenhum queira ir à liga europeia com a mentalidade dos dragões. É um perigo que o PSD se assemelhe ao actual Benfica, assumindo-se como um cemitério de líderes, apesar de ser aquele que tem o maior número de adeptos no terreno do país real. Basta notar como não reage à táctica do PS que, roubando o lema a um livro de Julian Huxley de 1936, utiliza o cabeça de lista para tentar pescar no eleitorado do PCP e do Bloco, como Sócrates, no governo inicial tentou utilizar Diogo Freitas do Amaral para assentar confiança no eleitorado do CDS e do PSD.
Não foi para jogarmos com as reservas que inventámos as eleições europeias, discutindo as reformas e aposentadorias douradas da gerontocracia partidocrática, ou atribuindo um prémio de carreira à fidelidade aos líderes provisórios, os que confundem os partidos com os respectivos quintais. Se o PS quisesse jogar à Porto, mobilizaria António Vitorino e Maria João Rodrigues, tal como o PSD iria convencer Marcelo Rebelo de Sousa, e o CDS, António Bagão Félix, ou José Ribeiro e Castro, todos acrescentando às listas, novas promessas e antigos ministros e deputados, marcantes no comentarismo ou nos grandes grupos económicos. Não é para jogarmos com reservas, e até ao estilo dos solteiros contra casados, que nos integrámos na Europa connosco, a velha prioridade das prioridades.
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