Apenas concluo como a meritocracia continua longe da partidocracia. Porque o mal está nas pretensas eleites que se assumem como seleccionadoras nacionais do pensamento único. Porque elas sempre se deram mal com a criatividade e a imaginação. Pancho Guedes teve a ousadia de dizer que havia um Portugal lusotropical, vizinho de Durban, onde foi educado Fernando Pessoa. Pior do que isso: concorreu para edificar um grandioso monumento aos combatentes do ultramar, denunciou os massacres da guerra e os generais matadores, mas sem deixar de retratar Samora Machel como ele era, enquanto equiparou o 25 de Abril a um talho e a matadouro, donde se teve que sair para o exílio, para poder continuar a ser livre e artista.
Aqui e agora, Sócrates e Zapatero, apoiantes confessos da recondução de Barroso, talvez não tenham esquecido que, quando Barroso ainda era chefe de governo de Portugal e já tudo era porreiro, pá, o actual presidente da comissão da UE ainda começou por lançar a candidatura de António Vitorino a esse lugar, coisa que não esteve tremida, porque nove Estados chegraram a ser mobilizados para tal objectivo. Acho que tudo falhou quando o PSOE, com pouca solidariedade ibérica, disse que família socialista por família socialista, o senhor Europa deveria ser Javier Solana.
Logo, discursos como o de Sócrates, com sotaque chavezista, qual Marinho Pinto contra a senhora da TVI, quando entram em delírio antimaneleiro apenas servem para enganar os papalvos. Por outras palavras, o tédio vai marcando o ritmo politiqueiro, onde, para argumentos fracos, surge a voz forte dos insultos e muitas viagens ao museu de cêra do pós-prec, porque quanto mais insultos, menos política e mais indiferença. Nem o "Manela ponto come" ou o "SOS voz amiga" de qualquer "telemarketing" nos livrarão dos diabos neoliberais e neolconservadores, ditos reaccionários, mas emitidos por quem é qualificado por fascista por jovens artistas.
Preferia uma qualquer lei europeia que só admitisse deputados eleitos se metade do corpo eleitral fosse às urnas. De outra forma, não tardará que venha o estadão admitir em lei que, da próxima, as abstenções contarão como votos a favor, à maneira do referendo de Salazar sobre a Constituição de 1933. Ou, melhor ainda: uma lista única, de adeptos do europeísmo do pensamento único, que seria automaticamente eleita, sem necessidade do povo ir às urnas, nos círculos onde não se apresentassem listas alternativas. Foi o que aconteceu em 1911, nas primeiras eleições da república portuguesa...
Por isso, acabo de desligar o televisor, depois de uma das propagandistas da euro-enegenharia subsidiocrática emitir um programa do novo SNI, onde se proclama que tudo quanto é nacionalista é de extrema-direita. Os meus amigos da Irlanda centrista, da esquerda basca e do liberalismo nacionalista da Catalunha repararam como os portugueses foram ocupados pela estupidez censória de um europês snob das tias de Cascais que estiveram inscritas no MRPP ou no Movimento Nacional Feminino...
Continuará a cidade dividida, doente, esquizofrénica? Continuará a cidade traída pela preguiça, estupidez e ganância dos homens ou começará amanhã a cidade a ser a casa grande de toda a gente?
P.S. Reproduzi dois quadros de Pancho, expostos no CCB. No primeiro, generais contando quantos mataram de um lado e de outro. No segundo, a importância dos olhos. No terceiro, um exemplo do provincianismo euro-situacionista. No próximo comício, Barroso deve ir à Madeira, com Manela e Jardim, em ritmo de Jaime Ramos. Prefiro o lusotropicalismo de quem se refugiou em Colares. O meu imaginário é mais armilarmente malagantana do que socrático, porteiro, jerónimo ou maneleiro. E nem o fato às riscas de rangel me leva a ceder. Gostaria mais de edificar o obelisco de Pancho, onde um poema de pessoa, um risco do arquitecto da casa grande de toda a gente e uma nota descritiva de mia couto nos poderia fazer largar da lama para que continuemos a perfeição do transcendente situado. Entretanto, vou relendo os avisos de Plutarco contra os aduladores...
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