a Sobre o tempo que passa: Há vencedores e vencidos e quem vence, reparte o que ganhou à custa do lombo de quem perdeu

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

21.7.09

Há vencedores e vencidos e quem vence, reparte o que ganhou à custa do lombo de quem perdeu


Dizem que o PS está atrapalhado com a escolha de cabeças de lista. Não vejo porquê. Jaime Gama, especialista em águas profundas, poderia ir para o resto do mundo. Lisboa, contar com Diogo Freitas do Amaral. Em Coimbra, José Miguel Júdice. Nos Açores, Daniel Proença de Carvalho. No Porto, Pinto da Costa. Em Setúbal, Eduarda Maio. Em Braga, Lopes da Mota. Em Aveiro, Fernanda Câncio. Na Madeira, Emídio Rangel...

Mas nem tudo vai mal. Daí, as minhas sinceras saudações para os militantes do simplex. Vão do Jumento a Novaes Tito, com corporações e literatura. Os maneleiros que não estejam de férias vão naturalmente reagir. Com gente desta qualidade a querer sujar as mãos, a democracia e a blogosfera fogem à força da inércia. Alguns destes simplexes já demonstraram que há socialistas que nunca se ficaram pelo situacionismo.

Quanto ao PSD, consta que Morais Sarmento poderá substituir Augusto Santos Silva. O ex-ministro Arnaut tem hipóteses de suceder a Luís Amado. Alguns dos redactores do velho "Grito do Povo" podem ir para a Educação e para a Ciência, embora sejam vários os que sugerem alguns directores-gerais nomeados pelo socratismo. Não sabemos se Luís Filipe ...Vieira terá sido sondado para a pasta da juventude e dos desportos...

O lobo não é lobo do homem, como insinuava Hobbes. Os lobos não atacam animais da mesma espécie. Por isso, actualizemos o dito, conforme Konrad Lorenz: há certos homens que gostam de ser ratos dos homens.

Ainda hoje, em o "Público", faço um apelo à intervenção de Cavaco Silva para as percepções externas de corrrupção. Esta sucessão de casos condiciona "a política de verdade do PSD, mas favorece, sobretudo, "a agonia lenta de um sistema partidocrático que está a envenenar o regime". "PSD e PS têm os mesmos telhados de vidro e entretêm-se a atirar pedras um ao outro, só que vivem numa vivenda geminada". Daí ser urgente que "os grandes partidos, juntamente com o Presidente da República, assumam um pacto de que não atiram pedras um ao outro, peçam desculpa ao povo" para "entrarmos numa nova era". Recolha da jornalista Filomena Fontes.

Quando esta carapuça deixar de fingir que é futuro condicional, isto é, quando for remetida para o lugar que merece, o pretérito imperfeito, todos reconhecerão que, afinal, não há mal que sempre dure. É o que me apetece observar sobre ostracismos coxos e cobardes declarações de sacristia ou alfurja, emitidas do púlpito ou do palanque, por déspotas que já nem sequer são iluminados. Chapéus há muitos, caro palerma!

Qualquer correspondência da anterior declaração com um, ou vários, macro ou micro-autoritarismos não passa de mera coincidência degenerativa, face à manutenção dos sub-sistemas de medo. Não pensem já no governo PS, ou nos micro-governos do PSD que por aí pululam. E os bufos que fizerem "copy & paste" desta coisa, para a levarem aos ditos, que lhes paguem o serviço. Quem reprime, apenas mostra medo do reprimido.

O problema é que o hobbesianismo se transformou numa ideologia que se libertou do criador, com base numa metáfora que não era assente nas teses da recente etologia. Mas o essencial está no que diz. Aliás, Thomas nasceu antes do tempo, quando a mãe, sobressaltada, temia o assalto da dita Invencível Armada. E como ele próprio reconheceu: "eu e o medo somos irmãos gémeos".

Confesso meu temperamento de radical que se apaixona por causas e não entende a racionalidade como um afrouxar das paixões. Como se os cinzentos seres que sempre foram os números dois dos pelotões de fuzilamento pudessem, alguma vez, ter o prazer da criação. Porque não há direita, esquerda, extremos ou meio-termo. Há vencedores e vencidos e quem vence, reparte o que ganhou à custa do lombo de quem perdeu.