a Sobre o tempo que passa: Meditações pouco politiqueiras, aqui no Valbom dos Gaviões

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

13.7.09

Meditações pouco politiqueiras, aqui no Valbom dos Gaviões




Enquanto Sócrates continua em teatro, num palco redondo, com Magalhães em fundo, António Costa vai-se alargando. Depois de Carlos do Carmo e Saramago, chegou a vez do Zé Sá Fernandes e do Gonçalo Ribeiro Teles, enquanto os jornais diários trazem publicidade paga sobre a carta estratégica de Lisboa. Manela e os maneleiros voltam à gestão dos silêncios. Preferimos entrar para o Guiness com o maior bacalhau dourado do mundo, sem qualquer pataco...

Ainda no sábado, num colóquio do IDP, eu homenageava o Gonçalo, salientando que já em 1969, quando se concretizou a primeira lista dos monárquicos oposicionistas, a CEM, ele apareceu integrado na CEUD de Mário Soares, coisa que revelava a coerência dos activistas do Centro Nacional de Cultura, fundado poucos minutos depois de finda a Segunda Guerra Mundial, e dos participantes da revolta da Sé, entre os quais se contava outro monárquico como o Francisco Sousa Tavares. O apoio de Gonçalo a Costa apenas revela coerência de um percurso de cidadania e fidelidade a um programa, sobretudo quanto a Lisboa. Nunca o Costa poderá instrumentalizá-lo como o inverso do Nuno da Câmara Pereira, nem certamente o quererá fazer, sobretudo ao primeiro secretário de Estado do Ambiente da democracia. Gonçalo está bem acima destas quezílias eleitoralistas e, quem o considera mestre, como eu, até reforça o respeito que por ele tem, mesmo que nele não venha a votar.

Prefiro relativizar os excessos politiqueiros, pensando a política. Porque quando volto à casa onde tenho os papéis e os livros antigos, refaço meu corpo e meu espírito, sentindo a livre sinfonia da passarada neste vale, os coelhos que saltitam livres e o barulho do mar ao fundo. Esta nostalgia rural de um emigrante capitaleiro, obriga-me a sentir os pés no chão da terra da pátria e os olhos no transcendente das estrelas que me dão cosmos. E assim volto a poder crescer por dentro, longe de tantos outros, pouco sustentados no território e na gente, para os quais crescer apenas é crescer para cima, do betão, do "hardware" e das chaminés das fabriquetas.

Volto a reler. Mas há livros e autores consagradíssimos que, só depois de passarem de moda, devem ser lidos ou relidos. Sobretudo, os pretensos trabalhos académicos de jornaleiros de coisas que se chamavam da luta popular ou do grito do povo e que, depois, encarreiraram pela partidocracia do situacionismo. Só alguns, raros, se libertaram do princípio de Peter, apesar de abusarem, como adjuntos e assessores de outros primeiros...


Volto a reparar que há algumas diabolizações verbais, marcadas pelo dogmatismo maniqueísta, que não deixam enxergar o boi da realidade a muito boa gente que se senta nos palácios situacionistas. Misturando a teoria da conspiração, vinda da espionite, com o malhar das células de combate não passam afinal de lixo da história. Basta reler as análises e previsões que fizeram, poucos anos depois...