a Sobre o tempo que passa: Uma classe média de enjoados, o situacionismo e a ditadura da incompetência

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

1.8.09

Uma classe média de enjoados, o situacionismo e a ditadura da incompetência


As classes médias são o nome que se dava aos remediados no tempo de Salazar. Elas foram o sustentáculo do centrão na época pós-revolucionária, corresponde aos maioritáriops daquela definição de Europa, dada por Jacques Delors: dois terços que têm vivido melhor, um terço de socialmente excluídos do "progresso".


O problema é que, em Portugal, tendem a ser excluídos os jovens mais qualificados que ameaçam, pela concorrência, os instalados e os incompetentes. Os criativos e os que tendem a usar a imaginação com excelentes bases formativas. Isto á a maioria dos que procuram mais uma vez a emigração, naquilo a que se chama fuga de cérebros.


Porque a maioria do centrão apenas quer conservar o que está. Está entalada entre o martelo da eventual explosão social, usado por endireitas e canhotos, e a bigorna do situacionismo bonzo, com a sua ditadura da incompetência. Representa o pior deste país que deixou de sair a salto ou além do mar e ficou maioritariamente de enjoados, dos que temem a aventura e o sentido do risco, preferindo o regime assistencial da Dona Maria da Cunha e da subsidiocracia, à custa do endividamento das futuras gerações.


Daí que tenhamos passado da indiferença abstencionista para o azedume, também ainda abstencionista. Temo que as próximas eleições não sejam ainda o necessário golpe de Estado sem efusão de sangue que encerre este ciclo de alternâncias de maioria absoluta dentro do centrão bloqueante.


Porque se as vozes tribunícias que nos prometem alterar o sistema para que se mantenha o regime não forem ouvidas, poderá suceder o imprevisível de uma explosão.


Eis a base do que hoje aparece no "I": "o conceito de classe média foi uma moda que surgiu na Europa dita desenvolvida. Mas em Portugal esse conceito não existe: foi uma ideia que surgiu no contexto de welfare state aplicado na Europa, numa altura em que em Portugal se aplicava o Estado Novo. E se nesse período, a dita classe média portuguesa era apenas uma classe de remediados, o que temos hoje são remediadinhos".


A opção passará, assim, por sobrecarregar os mais ricos? "Está a voltar o grito revolucionário dos ricos que paguem a crise. A luta de classes acabou: o que temos é uma luta de invejas".


"As propostas fiscais do PS e do PSD para a classe média são apenas slogans, porque no fundo é tudo mais do mesmo. O que está em causa é uma tentativa de seduzir os remediados do centrão ideológico que, infelizmente, ainda se deixa iludir pela patranhas que são prometidas nas campanhas eleitorais e depois colocadas na gaveta".