a Sobre o tempo que passa: Sem andorinhas nem tsunamis, ganharam os que estão no poder

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

12.10.09

Sem andorinhas nem tsunamis, ganharam os que estão no poder

O BE perdeu. A CDU resistiu. O CDS foi excelente muleta do PSD. O PSD não passou para a segunda divisão. O PS manteve a liderança do sistema. O povo é quem mais ordena. Temos os autarcas, os deputados e os governantes que merecemos. A política continua. A democracia é a institucionalização dos conflitos.

António Costa, Fernando Seara, Luís Filipe de Meneses, Mata Cáceres, Moita Flores, Isaltino de Morais, Rui Rio, Raul de Castro, Pulido Valente, Macário Correia são os grandes vencedores da noite. Tal como Sócrates. Mas não Manuela Ferreira Leite. Também não Paulo Portas. Porque Jerónimo é um colectivo e Louçã não compreendeu que atingiu certo princípio de Peter, embora não tenha desaparecido e possa frutificar.

Costa ganhou Lisboa com maioria absoluta, em grande coligação com os alegristas, Sá Fernandes e o Gonçalo Ribeiro Teles. O líder é politicamente superior, bem como pessoalmente coerente. Conheço-o desde os bancos da faculdade e merece-o. Mas não votei nele, nem em nenhuma das alternativas oposicionistas que disputaram as alturas municipais. Nem aqui sou situacionista!

Elisa Ferreira merecia melhor companhia, mas Rui Rio esmagou. Isto é, tanto em Lisboa como no Porto venceram os que estavam no poder e o efeito semeou-se por quase todo o território, acabando, de vez, com essa falsa ideia de, nas zonas urbanas, estar o progresso e nas rurais, o tal Portugal profundo dos reaccionários e manipuláveis. Os grandes caciques estão nas zonas da litoralização pretensamente desenvolvida

Certos sinais de esperança aconteceram com a liquidação de algumas caricaturas politiqueiras como as de Barcelos e Felgueiras. À moda do Minho e com pronúncia do Norte, certa renovação democrática pode voltar a ser o paradigma, se o PS e o PSD entenderem os sinais do tempo.

As andorinhas enlatas e importadas como as de Ana Gomes e Isabel Meireles não enganam os ditos saloios que continuam a julgar que o Tejo não é o rio que passa na minha aldeia e que bastam uns passeios à província para que o povinho se renda. As vitórias alcançadas resultam quase todas de um sério investimento político!

Os deputados ao Parlamento Europeu que, nas suas descidas semanais às berças, pensavam que seriam elevados ao Hossana, acabaram chamuscados, mesmo no feminino.