Do natural código de honra. De M. Teresa R. Bracinha
Quem olhar de frente para uma célula solar, verá uma pupila e uma íris e uma retina e um nervo óptico. Refiro-me ao olho humano onde se abriga também e reagem os sinais da honra. Caminha ela sobre um líquido translúcido e é devota da ressurreição e dos princípios cósmicos e nunca propriedade de uma seita ou religião ou manto de regras.
Foi-lhe dada uma outra natureza, uma natureza que capta o funcionamento do invisível e que deveria constituir medida comum ao homem.
Pasmo sim, que tão pouco se fale hoje de uma vida limpa, de uma vida bastante, através da qual a palavra de honra - protesto verbal com que se afiança a realização de uma promessa -, nutrisse o plexo solar que chamasse à consciência a responsabilidade do grupo, no perfazer do grande propósito de repor as causas.
O código da honra decorre, tal como o entendemos, de uma certa qualidade do sagrado dentro de cada um.
Para nós ele chega a entrar em conflito com inúmeras regras e costumes que o não interpreta, sobretudo quando aviltado como uma consciência individual ferida de saque, como uma hombridade sem género na defesa, como uma agressão às leis da natureza que uma qualquer brutalidade não define.
Será que o relativismo na nova interpretação unificada atingiu o significado da honra?
Será que as sínteses a abandonaram numa infalível demonstração de poder raso?
Será que de tanto ver triunfar a nulidade e medrar a desonra e a injustiça, tornou-se humano desanimar a virtude, expurgar a energia da honra e envergonhar-se de se ser honesto?
E eu que tenho para mim que a primeira qualidade do estilo é a clareza, e eu que não vivo atrelada ao desalento, quero acreditar que quem não deixe de procurar a tal célula solar até que a encontre ou reencontre, será esse o maravilhado que aperta a vida num equilíbrio de corpo mental, intuitivo, desdobrando poderes de filiação planetária e se responsabilize, enfim, pela parte que lhe cabe na vocação do destino dos homens.
Que eu saiba um dos opostos da honra é a desonra (ou opróbrio). Digam-nos então, os que julgam dominar pela ignomínia qual a razão que os leva a gemer no trabalho de parto do maldoso nada que expelem? O apelo à generosidade alheia ou a espera de uma honra actuante e solidária?
Sei sim, que as pessoas que manipulam a seu favor e único proveito tentam impedir o processo imaginativo, aquele que me dá a honra, a distinção de partilhar a minha actividade clandestina e assumi-la à luz do dia em campo de honra, em campo de batalha.
Às vezes, parece que as pessoas retomaram o medo de falar. Mas se o não fazem, é também por falta de coragem. Não é culpa do sistema, é culpa das pessoas além da imensa dificuldade em compreenderem tudo aquilo que as condiciona: e cada vez vejo mais sinais que indicam a luminosidade deste pensar de Shakespeare:
“Existe uma espécie de homens de rosto severo e ar afectado, indiferente, com a imobilidade dum pântano, que se mantêm num silêncio obstinado para ganharem reputação de sabedoria, de gravidade, de profundo pensar. (…) Alguns gozam de fama simplesmente por não dizerem nada; e estou certo de que, se falassem, fariam o desespero dos seus ouvintes, os quais, só de os ouvirem, considerariam os seus semelhantes loucos.”
Permito-me acrescentar: tens um papel à frente, estás justificado. Não se passa nada. Do natural código de honra retiras a norma que culpe os outros. É essa a tua dimensão nacional de pessoa.
M. Teresa R. Bracinha
25.11.09
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