a Sobre o tempo que passa: Entre a mestria da mátria e a memória do elefante

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

20.11.09

Entre a mestria da mátria e a memória do elefante


Dizia anteontem, em "mail" privado, uma importante figura da literatura nacional (Lídia Jorge) sobre um texto aparecido num blogue: os seus textos "não são apologéticos mas incitam a uma harmonia que caiu em desuso desejar em público". Fiquei com tanta inveja de tal pensamento da escrita em forma de blogue (M. Teresa R. Bracinha)... Claro que sei reconhecer a leveza da metafísica e a mestria da mátria.


Por contraste, ouço que um alto paradigma da administração deste guterrismo socratino emite constantemente esta ameaça: "o gajo vai pagar-mas todas e com juros!". Apenas concluo que o crime continua a compensar. Excluo das escutas o brejeiro modelar com que se emite o assédio... É o estado a que chegámos, ao rebaixarmos os fins do político.


E nos interstícios da vontade de poder, lá vão subindo os híbridos, especialistas na face oculta do realismo do poder. Levam e trazem, trazem e levam. E dizem sempre que não há justiça porque ninguém deve dizer o que pensa. Muito menos nos jornais, nas televisões, nas rádios, nos blogues e no "facebook". Hão-de todos mandar no deserto. Ou na paz dos cemitérios.


Antes de serem escravos já são súbditos, no sobe e desce das sobras da mesa do orçamento. E olham-nos com ar de pena pelo desaproveitado da sua inteligência. Esquecem que vale mais a honra. Porque esta é a que deixamos em herança. Ninguém de boa educação, homem livre e de bons costumes, diz aos filhos para eles serem como aquele senhor político ou aquele senhor sucateiro...


Se ocorresse um acidente nuclear na raia do Tejo, não sei como a informação chegava em rapidez aos palácios do poder capitaleiro. Talvez fosse melhor telefonar, ao mesmo tempo, a um qualquer jornalismo de investigação... O centro continua inundado de problemas secundários e pode ser que o Bin Laden trate de aterrar de avioneta na face oculta do Terreiro do Paço...


A rainha Isabel II tem a sua Nova Zelândia como o país menos corrupto do mundo. O futuro presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, é do rei dos belgas. A alta representante para a Política Externa da União Europeia é Catherine Ashton, cidadã da mesma Isabel II. Monarquias democráticas que, sem ser por acaso, são paradigma. Parlamento e rei fundaram a democracia ocidental. Valete, valete, valete!


Quanto mais democracia, quanto mais monarquia, menos corrupção e mais variedade de partidos, entre socialistas, liberais e conservadores. Uns, desde os finais do século XVII, outros, desde a moderação demoliberal da primeira metade do século XIX. Todos com a mesma ideia que vem de Newton e inversamente proporcionais à utopia revolucionária, com mais sociedade e melhor Estado. Liberais e espirituais. Em tradição.


Infelizmente leio: "Uma pessoa que até há cerca de um mês foi secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro. Ou seja, um membro do Governo muito ligado ao primeiro-ministro. As pessoas podem dizer que isto não tem problema de maior, afinal todos os dias o Governo nomeia pessoas para empresas públicas". Concordo com estas frases, vindas de um ex-ministro de Cavaco e ex-presidente do PSD. Mas acrescento: Isaltino de Morais não devia ter posto quem agora escreve tal contra Sócrates naquilo que era a Universidade Atlântica. Apenas qualifico tais frases como parcela do autoretrato de quem, nisso, já deve ter pedido o estatuto de arrependido. Não lhe ponho o nome de autoria. Os perseguidos da Fábrica da Pólvora reconhecem-no em tal.