a Sobre o tempo que passa: África, mulher - mãe de consistência. Um poema de Teresa Vieira

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

24.12.09

África, mulher - mãe de consistência. Um poema de Teresa Vieira


    África, mulher - mãe de consistência


    África

    Que o teu criador não te fez à semelhança de nada

    África

    Generoso enigma da razão solta

    Quando antes da partida já meu corpo se quedava

    África

    Meu ciclo de esperança

    Minha sedutora ladra que me roubaste de mim

    Para me levares às essências

    África

    Renovadora incessante do desejo

    Extensão sólida, miragem real

    Com que critério viver-te ?

    África

    Minha emergência de reconciliação

    Meu grande olhar iniciático

    Às tuas formas adiro e descalça

    Obedeço ao teu pulsar

    África

    Meu coração central

    Tua receita secreta

    Aventura de mim a ti a erguer-se do nada

    África

    Meu frágil dormir

    Quando teus sons próximos e longínquos

    Me dão a ilusão do silêncio

    Enquanto os bichos homens, bichos mulheres

    E bichos por superioridade

    Feitiçam tuas noites de fortes cheiros

    Ai! África mulher-mãe de consistência

    Tua lei, minha morte satisfeita

    África

    Sem intervalo

    Melodia lavrada à extensão de perder de vista

    Iluminura na bíblia dos meus dias

    E sempre novas maravilhas atiçam

    Danças de alquimia ao fogo

    OH! África

    Conclusão do meu destino

    Recorte do meu corpo

    Espírito exposto ao tempo próprio

    Começo sem limites onde já descanso meu cansaço

    África

    Das cores fortes com nome

    Ser tua amante sob as luas

    É saciar minha avidez chamada mundo

    OH! África

    Das trovoadas que rebentam em partos de vida

    Universidade inesgotável de saberes

    Deixa que enfim

    Por mim mesma

    Evoque o imperativo de me aceitares

    Um pouco

    tua.

    Teresa Vieira