a Sobre o tempo que passa: Contra a elefantíase legislativa...porque a moralidade não se decreta!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

3.12.09

Contra a elefantíase legislativa...porque a moralidade não se decreta!


Há dias em que, tendo tanto para dizer, não apetece dizer nada. Os senhores partidos. em coligações negativas e positivas, votam e desbotam, ponde remendos no que devia ser um "ordenamento" e um "sistema", aberto para cima, para os valores, e aberto para baixo, para a sociedade. Mas todos reconhecem que o Estado são eles...


A corrupção, por exemplo. Ninguém faz moralidade por decreto nem lei formal, através de qualquer reforma ou revolução vinda de cima e que não se enraíza no interior de cada um, ou não se consensualiza como moral social. A moral não passa da tal ciência dos actos do homem como indivíduo e só se alcança quando cada um conseguir cumprir as próprias normas que para si mesmo emite, aquilo que, desde sempre, foi a autonomia.


Ainda anteontem, no dia da cimeira, as televisões brasileiras emitiam uma gravação onde altos políticos de Brasília eram apanhados a receber propina, em maços de notas, que metiam na roupa interior e nas meias. Até Lula teve que comentar em directo, a partir de Lisboa, o evento corrupto. E se o parlamento lusitano aprovasse, de um dia para o outro, os normativo da terra da "ordem e progresso" contra a corrupção, e com efeitos retroactivos, estou convencido que, entre os nossos servidores públicos, só uma minoria escaparia de um processozinho.


O problema não está em cairmos na ilusão da elefantíase legislativa. Porque, quanto mais aparelhismo estadual, mais indiferentismo e mais corrupção. O problema está no exemplo que venha de cima para baixo e nos exemplos que cada um possa dar para os que estão lá em cima. Foi, mais ou menos, sobre esta temática que ontem participei numa interacção pública, promovida por um grande partido português que, ao que parece, quis discutir política numa noite de não fim-de-semana. Só os oradores andavam pelo meio século de vida, porque toda a assistência era da geração dos que têm menos de trinta anos. Notei a preocupação. Fiquei mais confiante na hipótese de regeneração, isto é, no reencontro da honra com a inteligência, nesta pátria da Arte de Furtar.