a Sobre o tempo que passa: A força da inércia é mesmo a força maior destas forças vivas

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

4.12.09

A força da inércia é mesmo a força maior destas forças vivas


Animado pelo choque tecnológico, tento olhar de frente a luzinha que o diz alumiar, tento alinhar-me com o friso gloriosamente modernizante do sistema, mas não consigo descodificar o hermetismo do politiquês, do parlamentarês, do ministerialês, do tecnocratês, deste vira o disco e toca o mesmo, onde o amigalhaço eleva o outro ao cume da conquista da palavra que, segundo alguns primitivos actuais, é sinónimo de conquista do poder, coisa que, muitas vezes, se reduz a lamber os habituais subsídios que vão escorrendo da mesinha do orçamento.


Porque a força da inércia é mesmo a força maior destas forças vivas que nos enredam, dessas volutas de quem, olhando para o próprio umbigo, agrava a trindade da "imagem, sondagem e sacanagem". Todos esses que só vislumbram, diante do olhos, ramos e ramos que nos embaciam a compreensão do todo. Porque só se "com-preende" quando se "prende com", isto é, coisa com coisa, através de uma adequada intuição da essência.


Aliás, toda a luminária retórica, de todos os regimes em decadência, vive da laudatória ideologista, perdendo-se em estupidificantes discursos de conformismo, com muito texto sem contexto, com muito movimento, gestual e verbal, sem ensimesmamento nem maturidade, onde, na prática, todas as teorias passam a ser outra coisa, mas sem natureza da coisas, porque, por dentro delas, as coisas já realmente não são, não passando de meros restos moldados pela música celestial de um falso politicamente correcto.


Porque, afinal, já há tortura, espionagem política, coscuvilhice, suspeitas, já entrámos, disse o primeiro, em verdadeiro totalitarismo. Ai de quem perde o sentido dos gestos. Pode passar a mero sacristão. Quando precisávamos de mais. Isto é, de mais além. De decisões em tempo de excepção.