O verbo transforma a regra. De Teresa Vieira
Julgo que crise é também igual a esperança, num sentido muito preciso.
Digo: todos desejamos um novo viver e para isso há que criar condições de diferença, condições que alterem o caminho da impossibilidade, ou, a manutenção das águas estagnadas nos destruirá irremediavelmente com a ajuda da velha vidente das desgraças.
Porque é preciso destruir umas coisas para criar outras, não podemos continuar a pactuar já que daqui a pouco, o pouco a pouco não é nada. É adiar sem medo do terrível, sem sentir a falta de sentido que nos rodeia.
Há que criar uma nova disponibilidade; a disponibilidade para nós próprios, aquela que face a face a nós, nos faz sentir enfim a batota que nos enreda.
O homem tem de estabelecer um paralelo remissivo da essência para a existência, caso contrário estaremos a minar constantemente a nutrição da vida; estaremos a ignorar que o verbo transforma a regra.
Os sonhos não são essencialmente gustativos das horas em que se repensam, ao contrário, os sonhos resultam também de uma abstinência forçada, entupida, e à qual há que fazer frente.
Talvez se fizermos da indignação um acto de consumo compulsivo, aí sim, nos surja uma Páscoa - uma passagem - espontânea e para a qual até as células se sorriem aliviadas do peso do somatório da força de todos os abatimentos.
O mar de Cartago é uma festa que a todos convida. Recordo.
Encontremo-nos nela.
Teresa R.B. Vieira
26.03.10
Sec.XXI
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