a Sobre o tempo que passa: O Zé é aconselhado por Merkl, a receber lições de grego não arcaico. Explicador, procura-se!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

4.5.10

O Zé é aconselhado por Merkl, a receber lições de grego não arcaico. Explicador, procura-se!


As parangonas dos jornais dizem tudo sobre quem efectivamente manda. Basta sabermos ver quais as forças vivas que mais estão a lucrar milhões por dia. Basta vislumbrarmos quem melhor consegue pressionar a enfraquecida força do ministerialismo. Basta seguirmos o verbalismo da propaganda do ministro Mendonça de Melena Y Pá. Enquanto isto, lá está Merkl a aconselhar o Zé. Que, para ser efectivamente Sócrates, tem de seguir lições de grego não arcaico e descobrir o conselho inscrito no oráculo de Delfos sobre o conhece-te a ti mesmo. Há por aí um explicador disponível que Cavaco vai receber: chama-se Medina Carreira e já foi ministro PS, bem como da Fundação de Monjardino, antes de ser sacerdote do realismo do vivermos com aquilo que temos e que o situacionismo diaboliza com processos e tremendismo...

Até Ricardo Salgado vem agora declarar que TGV só depois de os mercados voltarem ao normal. Mas talvez ainda apareça Berardo, com Alberto João pelo madeiro, elogiando o recuo de Inês de Medeiros, porque esta efectivamente não reside na Ilha do Corvo nem usa a Madeira Air Lines...

Apesar de tudo, a forças vivas que deram emprego a Franco Nogueira e Durão Barroso ainda encabeçam embaixada de lóbi à terra de Obama, para que se melhore a imagem da República, enquanto continuam a desfilar, em demagogia, os louvaminheiros do costume e os políticos pândegos que tanto são secretários de estado da inducação como do emprego...

Portugal já não é um bom aluno da integração europeia e já nada é porreiro. Até o principal argumento de defesa do situacionismo está na circunstância de invocarem que tudo seria bem pior se estivéssemos fora do euro. O que parecia tornar-nos num oásis está a transformar-se em tormenta, com os papagaios do costume apenas mudando o sinal ao bico...

Hoje, a Europa é uma coisa com vários pés e outros membros feitos de barro: tem Barroso na cabeça, Mar da Palha como tratado, um flamengo com nome impronunciável, como formal senhor dos senhores, enquanto uma baronesa britânica, socialista e tudo, só para lá foi porque franceses e alemães não quiseram o Blair...

O Bloco Central foi há mais de vinte e cinco anos e durou o tempo de Soares, do FMI e de Ernâni Lopes, com os restos de João Salgueiro, Rui Machete e outros sub-secretários e assistentes do tempo do marcelismo que, no PSD, não resistiram a Conceição Monteiro, Marcelo, Barroso, Santana Lopes, Júdice e Helena Roseta, até que a síntese dos oposicionistas emergiu como Cavaco...

Porque foi este nosso Cavaco que liquidou o governo bloquista centralinho que resistiu ao FMI, mas não aguentou a Dona Branca. Bastou-lhe a "Blitzkrieg" do Congresso da Figueira da Foz, onde foi fazer a rodagem do carro novo e levar na algibeira o nome de Freitas do Amaral como candidato presidencial, contra a de Mário Soares, no tempo dos salários em atraso e do bispo de Setúbal a invocar a fome... Aliás, não é por acaso que se aguarda, com ansiedade, a visita de Sua Santidade que, bem pode invocar a nova questão social, ultrapassando em puridade bloqueira a postura conformista de Manuel Alegre...