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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

23.6.10

Os rabos, as scutas e os novos formigas cor-de-rosa às pintas de "golden share"


Ainda estou aturdido com a épica entrevista de Alegre, ontem, à Ana Lourenço. Porque o grande poeta, quando faz discurso de candidato apenas sabe conjugar o verbo num pretérito pretensamente perfeito, sempre na primeira pessoa do singular.

No passado-presente de Alegre não há sinais daquela pilotagem de futuro, porque a barca deriva sempre para o esquerdismo, nesta viagem de regresso que transformou em ilusão de um passeio de consagração. São tormentas demais para quem exige boa esperança e deve continuar a não temer morrer, se procurar tentar...

Outrora, denunciou a política de imagem, sondagem e sacanagem do socretismo, hoje nem repara nos avisos do edil e do bispo do Porto sobre as engenharias financeiras oriundas de João Cravinho, com esse prosaico nome de "scutas"...

Daí que lamente ver a nossa sua eminência de São Bento como um mártir Sebastião, ardendo em fogo lento de comissões de inquérito e de arguições judiciais. Talvez o corte nas subvenções públicas das despesas eleitorais da partidocracia nos disfarcem a decadência...

Por mim, considero que uma democracia de qualidade é cara, mas pode sair bem mais barata a todos. Tal como a regionalização que pode custar bem menos do que este capitaleirismo centralista do ministerialismo e das soluções de pronto-a-vestir dos revolucionários frustrados que vão para o Terreiro do Paço, feita Praça do Comércio...

Seria melhor cortarmos neste regime de consultadorias, assessorias, mordomais e gabinetismos, com muitos eventos e comemorações e outros luxos de estadão, incluindo as casas de pedra, as casas civis e as casas militares da presidência que não parecem ter seguido o próprio gesto da coroa britânica. Tenho saudades do Teófilo Braga que ia para o palácio de eléctrico...

A máquina clássica da administração dita pública viu crescer no vértice do ministerialismo uma sucessão de excrescências paralelas que jogam à conspiração de avós e netos e ao secretariado da propaganda nacional, com direcções-gerais, institutos e empresas de regime...

Em vez da dita geração rasca que pintou o rabo de laranja, temos o partido revolucionário institucional, com muitos garotos de sucesso que até inundam a blogosfera com heterónimo colectivos, os novos formigas cor-de-rosa deste jacobinismo de jotas, à procura de lugar de administradores de "golden share"...

Já não estamos no devorismo dos padrinhos e afilhados das velhas "connections" que marcaram o soarismo e o Estado Laranja, mas numa forma superior de empregomania, adeuada ao choque tecnológico e refinada pela espionite que proclama causas humanitárias...