a Sobre o tempo que passa: No dia de São Fernando António, um que viveu em Durban, lá prós lados da Vuvuzela!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.6.10

No dia de São Fernando António, um que viveu em Durban, lá prós lados da Vuvuzela!


E (ontem) passei a tarde, homenageando intimamente quem nasceu neste dia no ano de 1888, recebendo, por isso, o nome de Fernando António, o autor da MENS AGitat molEM, editada em 1934: "estamos ainda, e durante séculos estaremos, na escola e só na escola", como ele avisava aos leitores deste mito por ele criado.

Esse nosso "super-Camões" do século XX, no poema de 10 de Dezembro de 1928, como que ele encerra o livro, sobre o nevoeiro, de um "Portugal a entristecer", onde "ninguém sabe que coisa quere. Ninguém conhece que alma tem, nem o que é mal nem o que é bem". E lá avisava: "tudo é disperso, nada é inteiro". Basta acrescentar: "Ah, quanto mais ao povo a alma falta,/ Mais a minha alma atlântica de exalta"...

E para concluir, depois de ouvir o Gilberto Madail invocar a Senhora de Fátima para a vuvuzela que ele não toca, bem apetece clamar em riso, como Fernando Pessoa: "deitemos fora esse fardo de trevas e de desalento que há séculos pesa, mais ou menos, sobre as nossas inteligências e sobre as nossas decisões". "Abandonemos Fátima por Trancoso".

E, continuando a sorrir, bem acrescento que Madail não se meteu com os deuses, porque ele nem sabe o que é isso de "paganismo superior", ou de "politeísmo supremo". O alto comendador do pedibola (neologismo lusitaníssimo, com que Aquilino Ribeiro tentou matar o "foot ball") confundiu o nome de Deus com a tradicional "vaca" do acaso de uma bola na trave ou no fundo das redes!

Também no dia de santantoninho, quando até as sardinhas estão ressequidas, li as declarações de Rui Pedro Soares qualificando aos meandros da CPI sobre a TVI como inquisitoriais, todas três com "i", o que deu alívio a Passos, porque, não sendo provada a mentira, não tem que ser accionada a moção que acabaria com o "tango"...

E consultei o "sítio" do chamado "processocarloscruz.com", onde até se incluem videodeclarações de Teresa Costa Macedo e uma enigmática frase de José António Barreiros, sobressaindo a obsessão contra Catalina Pestana e António Pinto Pereira, bem como peças processuais sobre Paulo Pedroso...

Tanto em Soares como em Cruz, o perigo da impotência, ou da descredibilização, de dois dos nossos principais órgãos de soberania: o parlamento e os tribunais. Ernâni Lopes foi ontem ao "Plano Inclinado" pôr algumas pontinhas nos "ii", transformando em tabelas de "powerpoint" o óbvio do fundamento moral de qualquer comunidade, mas sem a presença do novo executivo do "Taguspark", na era mais isaltina e mais ramoa de tão fundamental instituição voltada para o Bugio...

De Soares e de Cruz, interessam tanto os casos em causa, como os receios que todos passam a ter, porque eventualmente podem enrodilhar-se ou ser enrodilhados em eventuais casos em que possam ser postos em causa pelo enigma das provas. Porque ambos, sejam inocentes ou culpados, sabem que a responsabilidade política e a responsabilidade jurídica não são capturáveis pelos actuais teatros processuais...

A política e o direito afastam-se cada vez mais da vida, porque a grelha que os enquadra, de tão dilatória, não permite que a honra se case com a inteligência. Tudo uma questão de falta de adequada ciência processual, como podemos provar lendo processos como os de Michael Jackson ou de Madoff e comparando-os com as obras de Santa Engrácia do nosso Casa Pia. Por enquanto, por cá, todos exigem prova como a do São Tomé e não percebem que, com tantas pomadas cicatrizantes e operações plásticas, até as chagas desaparecem a olhos vistos...

PS: Foto de família, na África do Sul, do nosso Fernando António, dado à luz no Largo de São Carlos e que nunca foi, como o outro, o Bulhões, martelo dos heréticos... apenas continua a ser martelado pelos ditos santos e pouco sufis...