A avestruz ou a "struthio camelus". De Teresa Vieira
Temos de reconhecer a evidência de uma nova classe: a classe da avestruz.
Temos de reconhecer que esta nova classe dominante substitui e desloca a classe burocrática que necessitava dos papéis para neles enterrar a cabeça.
Ora é sabido que a/o avestruz é famoso por esconder sua cabeça na areia, ao primeiro sinal de perigo; donde não sacrifica arvores que se tornariam o papel onde as anteriores classes dominantes enterravam as suas doutas cabeças.
Os grupos de avestruzes têm também a suma característica de enterrar, num ápice, debaixo do chão, todo o crânio, o que envolve o parietal, o temporal, o frontal, o occipital, o esfenóide e o etmóide. E entre estes existem os pares e os impares que enfim, é como dizia o outro: é fazer-lhe as contas.
Mas esta nova classe arroga-se detentora de uma verdadeira alternativa: a alternativa do impasse.
Dentro desta encontramos o poder que chega à conclusão de que se está perante um fenómeno de profundidade e que atinge profundamente as sociedades, mais do que os próprios furos artesianos atingiram o Algarve, e impõe-se a emergência da avestruz, ou seja, nada vejo, nada vi, nada verei e quando for para correr, digam.
De notar que o/a avestruz é uma ave não voadora (atrofiaram-se as asas quando soube a vocação), mas é sim, dotada de umas pernas para que te quero, de fazer inveja a qualquer camelo pardo que não se adapte com facilidade ao escuro.
Contudo, entenda-se que este comportamento do/da avestruz, tem um contra-argumento comum, que assenta na base de que se uma espécie exibisse tal comportamento continuado, o tal da alternativa do impasse, não sobreviveria por muito tempo.
Não sabemos se assim seria pois esta nova classe à qual lhe mirraram as asas, é pródiga em coices, sobretudo quando ameaçada.
Sabe-se, inclusive que no entretanto dos corredores subterrâneos por onde habitam os cérebros desta nova classe, também se abrem inquéritos, e visam estes, a ética do aparelho primordial que descodificou a postura do nada tenho conhecimento e quem disser que eu tenho, eu nego.
Na verdade, os inquéritos também visam obter sondagens em profundidade e diâmetro, e para esse efeito, criou-se já o doutoramento em vedores que sugerem a colocação de bombas submersas, que escavam engenhosamente o género de furo que deve ser feito, e aproveita-se a bibliografia para, no pós-doutoramento, se sugerir a rega automática da situação grave que se atravessa ou de outras que virão.
A importância desta classe contemporânea - sublinhe-se - é tão profunda que já se instituiu a estrutiocultura, ou seja, a criação de avestruzes em cativeiro.
Aqui chegados torna-se necessário fazer jus à produtividade desta classe. Assim, ele é carne, ele é couro, ele é plumas, ele é ovos, ele é artesanato, ele é património não sei das quantas e como tal devidamente protegido, e, finalmente ele é reinterpretado consoante a teoria objectiva, subjectiva ou eclética, tendo em conta a corrente dos comentadores das urbes.
Assim, a classe da avestruz ou do struthio camelus (seu nome cientifico) impõe a autoridade, o prestigio espontãneo, o impacto estonteante da ideologia do ai que não posso ler já que não tenho os óculos comigo e quanto ao pensar a cefaleia impede, de tal modo que há quem a siga nas urnas por total identificação.
Contudo, esta classe, é um espírito aberto e especializadíssimo em citar as culpas alheias e a retirar para si as mais-valias das influências do obscurantismo que, afinal, persegue este génio que só se organiza e comanda, enterrando as boas performances, para que nunca se diga que delas se tirou proveito e la noblesse etc que a falsa modéstia também é um buraco lógico.
Mas a classe da/do avestruz promete-nos a tal alternativa do impasse.
Eis uma proposta.
M. Teresa B. Vieira
13.06.10
Sec. XXI
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