a Sobre o tempo que passa: Liu Xiaobo: um horizonte de alerta à defesa dos direitos humanos. Por Teresa Vieira

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

8.10.10

Liu Xiaobo: um horizonte de alerta à defesa dos direitos humanos. Por Teresa Vieira


Liu Xiabo um dos assinantes da Carta 08, manifesto pela liberdade e democracia na China, manifesto igualmente assinado por algumas centenas de intelectuais defensores dos direitos humanos na China, acabou de ser nomeado Prémio Nobel da Paz.

A sua mulher, Liu Xia afimou ao The Guardian que ele não sabia sequer que tinha sido nomeado porque não é permitido o acesso a notícias exteriores aos prisioneiros nas condições de Liu.

Liu Xiabo é poeta e professor de Literatura e encontra-se preso sob a acusação de ter violado a lei chinesa por agressão clara ao totalitarismo vigente.

Liu já tinha estado dois anos preso em 1989 por ter participado nas manifestações na praça Tiananmen.

Voltaria a ser novamente preso por falar contra o sistema de partido único da China.

Afirmam as notícias que o ministério dos negócios estrangeiros chinês avisou a Noruega para que não houvesse prémio para Liu Xiaobo pois criaria problemas entre a China e a Noruega...

Também muitos contestam a atribuição deste prémio a Liu afirmando que ele não pressionou empenhadamente o governo chinês face à lesão continuada dos direitos humanos e que até terá difamado outros lutadores pela liberdade na China.

Contudo, Václav Havel, Desmond Tutu e outros lutaram pela atribuição deste prémio a Liu.

Creio que o fundamento histórico desta decisão da atribuição do Prémio Nobel da Paz a Liu Xiabo visa dar voz a todos os que com ele, neste preciso momento, ainda pagam nas masmorras da bárbara prepotência, pelo mero direito de desacordo face a um domínio tornado morte-viva sobre a vida dos humanos.

Existe ainda uma espécie de qualquer coisa de cano que atravessa a história cortando-a e ceifando os valores-referência-base do direito de ser livre.

Essa espécie de qualquer coisa de cano que refiro é o lado escuro de tudo e que só é vencido pelo cósmico de cada um de nós.

Assim vivamos todos o suficiente para não partilharmos o nosso oxigénio com estas estranhas pragas de sobreviventes que ainda tolhem a vida no seu pleno.

A hegemonia tem de se afogar no seu próprio ácido e que cada vez menos haja a necessidade de um Prémio Nobel ser atribuído pela denúncia na tortura estruturada com que se pretende derrubar os direitos fundamentais do homem.

Aí sim, residiria toda a força de um direito da humanidade. E que cada pessoa possa ser uma pessoa de vários textos e de vários livros, para que finalmente se inicie a aprendizagem.

Um dia um dos contos das Mil e Uma Noites dirá que a Terra e os animais tremeram no dia em que os homens alcançaram a paz no interior de todos os mais elementares direitos e deveres.

Creio que a esta realidade chamou Joaquim Magalhães aquela que engloba

O ar fendido pela borboleta

Quimérica e noturna e de cor azul.

M. Teresa B. Vieira

8.10.10

Sec.XXI