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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.1.11

Retrato de um país de pés inchados...

1
O país em parangonas: Estado comprou dívida ao Estado. Custo extra com a dívida vai consumir poupança com corte dos salários. Sócrates acusa Cavaco de "não estar à altura" dos interesses de Portugal. China confirma ter emprestado muito dinheiro a Portugal e elogia o país. Apoio custará mais do que juros, dizem peritos: mais África e apoios fiscais. Venha a mim o vosso voto. Amen...


2
Em Castelo Branco, houve porco no espeto para o comício. Cavaco, em Trás-os-Montes, diz que foi à missa e cita o sermão do senhor prior. Defensor dança bem a coladeira. Nobre comovido com o abraço de um alentejano de 87 anos. Lopes sopra no vidro na Marinha Grande. Mais não digo.


3
Vou ouvindo na TSF debate do DN sobre o estado a que chegou o Estado. Ninguém diz que há estados dentro do velho Estado e Estados além do estado a que chegámos. O leilão da dívida foi exemplar: passou, quase ao mesmo tempo, por Roma, Madrid e Lisboa, com Pequim a meter a farpa..


4
Como dizia Daniel Bell, o Estado (o de Salazar, Cavaco e Sócrates) é, ao mesmo tempo, grande demais para os pequenos problemas da proximidade e pequeno demais para os grandes problemas do nosso tempo. A solução passa pelo aparente paradoxo da descentralização e da concentração estratégica. Para evitarmos as vulnerabilidades e flexibilizarmos as potencialidades.


5
Infelizmente, as nossas elites, as que misturam os manuais de OPAN do salazarismo com resquícios das vulgatas marxistóides e maoístas, tanto desconhecem o liberalismo à antiga como as receitas federalistas que fizeram coisas como a Suíça ou os Estados Unidos. Não sou suficientemente loucas para construir a grandeza.


6
O Estado desta parvónia são pés inchados e muitas arrastadeiras. Ele deixou de ser o cérebro social. Logo, como não se pensa, continua à espera do falso desembarque dos amigos de Peniche, pedindo votos em nome das lentilhas que os que compram e vendem poder deixam escorregar para os que entram no jogo suicida que nos adia...