a Sobre o tempo que passa: Dos que vão escolhendo os que os escolhem. Amen!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

8.2.11

Dos que vão escolhendo os que os escolhem. Amen!




Confesso que sou um galicista em termos de reflexionismo, entre Montaigne e Camus, entre Pascal e Saint-Exupéry. Daí que sinta, com pesar, algumas cacafonias expressas pelos velhos novos filósofos das pretensas novas direitas e novas esquerdas, os que inundaram os pensadores franceses, da opinião publicada, sobre as recentes revoltas da Tunísia e do Egipto.


Quase me parecem os “maîtres à penser” que visitavam o nosso PREC, em torno da nostalgia pela revolução perdida.


Mesmo que a ânsia de libertação, manifestada nesses povos, acabe por conduzir a uma escolha eleitoral “fair and free” que não coincida com as minhas preferências civilizacionais, não quero que as minhas crenças por lá possam assentar na repressão e na corrupção. Não quero que os alienígenas continuem vítimas do “white man’s burden”, como ainda se consagrava no Pacto das Sociedade das Nações.


Claro que prefiro os modelos demoliberais, mas estava a trair as minhas concepções do mundo e da vida se admitisse que os mesmos pudessem ser impostos pelos velhos processos da colonização, ou pelo respectivo sucedâneo desenvolvimentista, o que aposta nos autoritarismos ditos modernizantes, em nome de interesses estratégicos.


Daí preferir manifestar-me aqui e agora, sobre as minhas circunstâncias. Um dos melhores reveladores das presentes forças da inércia que marcam muitas das nossas corporações está na existências de sistemas fechados e clubes de reservado direito de admissão que, temendo o pluralismo, criam sistemas fechados que fomentam o unanimismo e apenas ficcionam alternativas.


Não é apenas na chamada classe política que se dão ocupações dos centros de decisão por sucessivas castas, onde gostam de se passear os falsos co-optados da sociedade civil, os especialistas da respectiva novilíngua, e os politicamente correctos que congregam ministeriáveis de todos os quadrantes.


A regeneração de Portugal apenas ocorrerá quando houver vontade de rupturas criativas, num baralhar e dar de novo que elimine os vermes que se alimentam do concentracionarismo vigente, revogando-se a cartilha de uma estratégia de derrota que é disfarçada por meros tacticismos sobre a conquista e manutenção do poder.


Enquanto não houver um refrescamento de legitimidade, através de sucessivas revisões dos vários contratos sociais que já não servem as expectativas, todos os dissidentes continuarão em seus exílios mesmo quando apenas apontam a necessidade do ovo de Colombo...


Centralismo democrático era aquela coisa dita de Lenine onde, parafraseando Pessoa, quando ela é unânime numa opinião ou num hábito, passa necessariamente a gado. Prefiro recordar outros tempos e assinalar que o bom serviço de conquista e manutenção do poder, ao poder escolher os que o escolhem, merece ser condecorado pela eficácia. Amen!