Heréticas reflexões de política internacional, em dia de raiva
Ben Ali está doente. Mubarak, idem, aspas, aspas. Já no Bharain, na Líbia, no Irão, enquanto eles não estão em comas, vai de malhar. É tudo um problema psicossomático, sobretudo para quem não tem jogos das ligas europeias, logo à noitinha, nem eternos processos de faces ocultas, sem Berlusconi nem repúblicas de juizinhos...
2
Está mais do que demonstrado o irrealismo dos chamados realistas que reduziam a política internacional a simples bolhas de bilhar no tabuleiro geopolítico dos Estados em movimento. Esses que conceberam o progresso como mero teleponto de conclusões discursivas de uma cimeira intergovernamental.
3
Durante mais de duas décadas confundiram o fim da história com essas promessas de uma ilusão de bem estar a que deram o nome de globalização e desenvolvimento, pensando que a coisa era tão fatal como o nascer do sol, todos os dias.
4
Protegeram tiranos com subsídios, conselheiros militares e escudos de espionagem, sem quererem saber de povos, pensamentos e suas identidades. Até pensaram que podiam substituir cartilhas de marxismos por outros quaisquer comprimidos empacotados, não querendo saber dos mitos que movem as civilizações.
5
Alguns chamaram a tal patranha ciência da estratégia e quiseram transformá-la em recinto esotérico para deleite de falsas elites que nem os bois à frente do palácio conseguem topar... E até deixaram que parcelas fundamentais da cidadela universitária fossem assim assaltadas, clamando contra os hereges.
6
E muitos nisso continuam entretidos, julgando que assim podem conter os feitiços que engendraram, essas criaturas que, libertando-se dos pretensos criadores, estão a pôr em causa a bela ordem que a todos os pariu.
7
Já chega dessas servas de uma nova teologia, onde legiões de novos clérigos, mancomunados com o diabo do pretenso irmão inimigo, vão brincando a revoluções, contra-revoluções, armamentos outros tráficos, dando uma falsa imagem do ocidente, só porque nos proíbem de o pensar e de o vivermos como pensamos. Acorda, Europa!
8
Pobres de nós, simples coitados, se nos deixarmos ser mero mercado de notícias enlatadas, cotações de juros e blindados, tudo reduzindo a manuais de instruções e procedimentos de quem, sendo agente, não nos deve comandar.
*Imagem de Qal’At Al-Bahrain. Antiga fortaleza portuguesa lá do sítio, quando ainda pensávamos pela nossa própria cabeça.
<< Home