Um mar interior, para navegarmos e circum-navegarmos, voltando às origens
Aproveitemos a encruzilhada da ميدان التحرير, Midan al-Tahrir. Este breve encontro de homens de boa vontade, islâmicos, maçons, cristãos, agnósticos, ateus e suas muitas seitas, contra o déspota não passa, infelizmente, de mera interrupção. O fanatismo, a intolerância e a tirania vão recomeçar dentro de momentos.
Islâmicos, maçons, cristãos, judeus, estóicos, agnósticos, ateus, panteístas e suas muitas seitas andam, há séculos, navegando entre as margens do mesmo mar interior. Navegar é preciso...matar não é preciso.
Só quando passámos além das Colunas de Hércules e descobrimos que a terra era redonda é que nos foi dado concluir: todas as civilizações são filosoficamente contemporâneas e só expatriando-nos nas nossas próprias origens poderemos encontrar os lugares comuns que nos dão diálogo.
O Ocidente pode dizer, dos seus cristianismos e das suas maçonarias, o seguinte, sobre o Médio Oriente: "No world organization owes more to the region in the way of its motifs, its symbols, and its rituals. But no organization in the course of its presence in the Middle East has encountered more criticism, more disapproval, and more outright government persecution" (Paul Rich).
Essa técnica de navegação armilar ainda hoje tem o velho, mas não antiquado, nome de humanismo. Porque, no princípio, era o verbo. Isto é, o logos. Isto é, a razão. Isto é, a palavra posta em discurso. Até porque o bicho homem é o único animal que pode palavrar. E também o único a saber que vai morrer. Logo, tratou de inventar o Infinito, incluindo o daqueles que dizem que, d'além, Ele nos foi revelado, aquém.
Nós somos aqueles que vieram do Mar Interior. Os que montaram cais no Atlântico. Depois, descobrimos o caminho marítimo para a Índia e enganámo-nos quando desembarcámos nas Américas e nas Austrálias. Porque saímos e nunca mais voltámos, somos de todo o mundo e não de Ninguém. Pelo menos, transformámos a estradas romanas em naus feitas de nevoeiro.
*Os meus avoengos, na fotografia que hoje redescobri, podem não ter nada a ver com isto. Mas o limoeiro do meu velho quintal ainda me dá raiz e sabor. Tenho quase a certeza que foi o meu primo Campos de Figueiredo que tirou o retrato. Pelo menos, captou a Leontina e a Lili, suas irmãs. E uma viola que dizem que tenho.
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