Deus, Inquisição, Razão
Em nome de Deus nos deram a Santa Inquisição. Em nome da Santa Razão nos deram a Junta da Providência Literarária e a Dedução Cronológico-Analítica. Absolutismos de sinal contrário, bem expressos pela topografia de Lisboa que colocou o Marquês de Pombal como cúpula tutelar da chamada Avenida da Liberdade.
Este acaso de uma liberdade feita à imagem e semelhança de um déspota esclarecido não é simples coincidência. O esclarecimento põe as tais luzes dos fins que se pretendem positivar na cidade no plano superior aos meios.
Daí o paradoxo: queremos fazer reinar a tolerância com muitos chicotes de intolerância; queremos fazer perdurar a razão através da anti-razão. Sempre carradas de apelos a pretensas éticas da responsabilidade contra as humaníssimas éticas da convicção. Que venha o Diabo e escolha. Que venha Santana Lopes e nos governe. Que venha Paulo Portas e nos defenda.
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