a Sobre o tempo que passa: A direita que está, não é

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

23.9.04

A direita que está, não é


Fim de tarde nas furnas da Ericeira, quando as ondas, cheirosas de algas e espuma, vão batendo, suaves, nas pedras negras. Fim de tarde, quando, depois da chuva, vamos sofrendo a solidão do tempo que vai passando. E passando vou passeando em meu passado, enquanto meu país me vai doendo.

Sempre a mágoa de não apetecerem os caminhos confusos dos falsos grupos, das instituições que não obedecem às ideias de obra, com regras de processo que ninguém cumpre e sem que manifestações de comunhão permitam a solidariedade e a identidade.

Assim nossa direita que a esquerda proclama mandar no governo. Que o governo está à direita, mas não é de direita, como não é de esquerda, como não é do centro. Está. É stare. É sato. Status quo. Ditadura do estado a que chegámos, ditadura da incompetência.

E os que estão à direita sofrem mais com a falta de autenticidade. E os que sendo de direita são à oposição destes que estão à direita, mais marginais se sentem.

Os partidos que usurparam a direita não passam de grupos de amigos que se odeiam cordialmente e, pior do que isso, são objecto das manigâncias dos velhos marechais da dita, sempre lestos a prestarem menagem aos vencedores e sempfre disponíveis para perseguirem os que se mantêm rebeldes face aos doces encantos da distribuição do tacho.