Arrufos, fingindo braço de ferro

O Hotel da Convergência está rodeado de magníficos jardins e envolvido pela pureza das serras. Dispõe de todos os serviços de poderio tradicional: restaurantes, bares, salas de conferência, um completo centro de saúde, desporto e estética com o mais moderno equipamento de manutenção e treino, piscinas e hidromassagem aquecidas, saunas, solário, banho turco, campo de ténis e putting green, onde poderá recuperar o sentido de equilíbrio e descobrir uma nova sensação física de bem estar. Foi nesta magnífica estância de "spoil system" que Rui Gomes da Silva e Paulo Sacadura Portas tiveram um encontro, onde fingiram simular um divórcio, porque, depois das zangas e das pazes,os casais de conveniência reforçam as intimidades coligativas e vencendo as crises, endurecem os contratos.



Não é depois deste arrufo que se zangarão as comadres e que se descobrirão as verdades. Tudo foi milimetricamente calculado, neste encenado braço de ferro, porque se Santana quisesse, teriam sido caladas, no congresso, todas as palavras de desconfiança face ao parceiro. Trata-se de mais uma forma de controlo de "agenda setting", desviando as atenções dos portugueses relativamente à questão fundamental do orçamento e desvalorizando qualquer intervenção do PS e dos agentes económicos e sindicais sobre a matéria.



Sejamos claros. Eles eram três. Dois da direcção do PP. Um da direcção do PSD. A fuga de informação veio do primeiro ou do segundo. Ou veio dos dois ao mesmo tempo. E não me parece que tenha havido qualquer escuta telefónica. Foi mais um facto político, artificialmente criado, visando satisfazer o psicodrama. Foi mais uma não-notícia, para que Paulo Portas e Miguel Relvas tivessem tempo de antena, preparando o espectáculo do Conselho de Ministros do dia seguinte. Porque, a bordo da "Sagres",Portugal vai candidatar-se junto das Nações Unidas para que a zona económica exclusiva aumente de 200 para 350 milhas a partir da costa, conforme anúncio feito pelo secretário de Estado dos Assuntos do Mar, durante a apresentação do programa da Semana do Mar. O Governo tem até 2006 para apresentar o relatório junto das Nações Unidas, contando com uma decisão «entre 2009 e 2011», disse o Nuno Fernandes Thomaz. Este alargamento territorial fará com que Portugal, se ainda existir Portugal, se estenda aquífero, do Continente até às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Assim, a área total a que isso corresponde equivaleria à dimensão da Europa.



A pátria agradece. Toda a Europa dará submarinos. Viva o milagre da multiplicação do espaço. Depois de D. Afonso Henriques, nunca crescemos tanto a nível europeu. Consta que o Professor Diogo Freitas do Amaral prepara já uma biografia épica de Paulo Portas e do novo almirante Thomaz. Parece também que já está preparada uma teatralização do inspiradíssimo texto, dito "A Vingança das Caravelas", onde, demonstrando-se a vitalidade da coligação, tudo será realizado pela equipa de actores que aderiu ao PSD, no recente congresso. Até porque o mais célebre de todos foi candidato pelo PP a Serpa.