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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.11.04

Cardinalices consistoriais em esotérico


Invocando os signos supra, peço desculpa pelo esotérico da transmissão, mas nestes reinos, onde a lei é usada e abusada, segundo o ritmo otomano do governo dos espertos, onde o Estado de Direito é o governo da legalidade interpretativa que o grande chefe manipula segundo o arbítrio das respectivas vindictas, apenas me resta falar em latim russificado, conforme aprendi no protocolo dos sábios do Sião, de acordo com a tradução da pequena CIA que tivemos, mas já não há, mas cujos manuais de contra-subversão me foi dado ler e que ainda não foram reeditados pela Huguin.


Amanhã, é mais um dia em que tenho de deslocar-me à cidade, obrigado que estou a integrar-me em mais uma procissão, desta feita presidida pelo cardeal-que-se-pensa-dono do colégio. Felizmente que podemos ir à civil. Claro que irei, obediente, reverente (pouco), e obrigado (mesmo nada). Irei, assim, aproveitar a circunstância para, dentro das regras, e de acordo com o cerimonial, agradecer, ao cardeal-que-se-pensa-dono, a mercê de me ter saneado, mas pelas costas, conforme é típico dos corajosos da respectiva ordem, e de saudar, no cardeal-pró-dono, a elegância de aceitar sanear-me, obedecendo à desordem que, desta forma, corre o risco de o anular.

Direi, contudo, à própria voz do dono, que o verdadeiro dono dos donos é um Senhor abstracto chamado ideia da coisa, coisa essa que ninguém pode ter, deter, possuir e amarfanhar, porque faz parte de um Ser. E Deste, o dito cujo, que se pensa dono, apesar de cavaleiro sessenta e nove, não foi autor. Até porque, nos Textos divinais que os criadores nos deixaram, incluindo todos os códigos de direito canónico, se não encontra, nem uma só linha, ou entrelinha, que lhe permita concluir por esta "capitis deminutio" a que me condenou, em puro ódio de vindicta, dado que, até agora, tinha sido um dos únicos líderes da oposição ao tal cardeal-que-se-pensa-dono.

A decisão de ter posto em minha cadeira, no próprio capítulo, um cardeal de outra província, apesar de ser perfeitamente legal, apenas visa acabar com as províncias e as próprias cadeiras autónomas e demonstrar como assim se exerce a vingança neste colégio, que corre o risco de passar para as ordens menores, dado que, nele, continua a vigorar uma regra, segundo a qual quem enfrentar o chefe, leva! E cardeal-que-se-pensa-dono mandou dizer que, nesta vida de cardeal de ordens quase mendicantes, quem quiser ser eremita, para louvar o Grande Arquitecto que não desceu à terra, estudando os textos sagrados, não pode ser cardeal no activo, nos últimos seis meses que resta de donice activa do tal cardeal-que-se-pensa-dono e que, no seu "delirium" de omnipotência, continua a declarar para os respectivos contínuos, incluindo o pessoal auxiliar que elevou à categoria de técnicos superiores principais, o grito altivo de "après moi, le déluge". Tem, contudo, esperança de conseguir de Santana Lopes uma lei especial que o prorrogue até aos oitenta e nove... Que tenha esperança. Até lhe posso dar o telemóvel de um dos coisos que ontem aderiu e que lhe deve uns favorzitos.