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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

12.11.04

O Museu de Cera da Republiqueta


Abriu ontem mais um interessante museu em Lisboa, com curiosas reproduções de antigos líderes políticos lusitanos em forma de figuras de cera. A primeira sala, dedicada ao pântano, tem uma reprodução de António Guterres, retocada por publicitários brasileiros e patrocinada pela Caixa Geral de Depósitos. Carregando-se num botão, situado debaixo de uma interessante popa, pode ouvir-se: "O que me preocupa é que, com uma promiscuidade crescente entre o poder político e até o poder judicial e os media, a expressão pública da vida política portuguesa se pareça cada vez mais com um permanente 'reality show', ofuscando o debate das questões essenciais".


Na segunda sala, dedicada aos grandes militantes da extrema-esquerda, aparece uma réplica de Diogo Freitas do Amaral, situada rigorosamente ao centro, entre o grande educador do proletariado, Arnaldo de Matos, e um garboso polícia militar, dito Major Tomé. Sob os pés da estátua de Diogo, encontra-se uma caravela esmagada, com um 'slogan' a vermelho: "não ao regresso das caravelas". A estátua empunha uma faixa em cor de rosa viva, onde pode ler-se: "fim ao complexo imperial". Carregando-se numa pequena bola, situada entre duas setas, o interessante boneco logo proclama: "Enquanto formos o país mais pobre dos 15, e em breve um dos mais pobres dos 25, enquanto formos o país europeu com a maior desigualdade entre ricos e pobres, enquanto tivermos dois milhões de portugueses abaixo do limiar da pobreza, não podemos gastar tanto dinheiro em embaixadas e canhões". Amanhã serão abertas outras interessantes secções de exposição, havendo imensa curiosidade quanto ao estilo de culinária hindu que será vestido por Narana Coissoró, mas todos esperam que ele utrapasse pela esquerda o boneco do seu antigo presidente.