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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

29.11.04

Pedradas, barulho e circo itinerante



Dentro de todos nós adultos há sempre uma criança. É esta criança que se empolga e sorri interiormente quando vê a lona armada de um Circo.

Santana que é Pedro também é Lopes e nestes três nomes, três coisas em conflito de heterónimos, porque nenhum talvez já seja nome próprio. Pedro é presidente do PSD e, sendo pedra, atira pedradas. Santana é primeiro-ministro e, assim encadeirado, finge ser homem de Estado, leva estalos e recebe pontapés. Lopes já não existe, foi presidente do Sporting, da Figueira da Foz e de Lisboa, além de comentador político da SIC e analista desportivo da RTP. Gostava de barulho e adorava o circo mediático.




Não existe figura mais alegre que a do Palhaço. Suas roupas coloridas, o nariz vermelho, grandes sapatos, cara branca com uma bocarra pintada, parece que acabou de saltar de nosso baú de recordações. Falar em palhaços é o mesmo que se falar em estrepitosas e alegres risadas. Para jovens e velhos têm o dom de voltar as lembranças da infância onde se mesclam risos e fantasias.

Ora, às vezes, o Pedro, com consciência tranquila, ocupa o lugar de Santana, desejando ser o Lopes. E Pedro sonha: "ficai sabendo que, entre os pê-esse-dês, alguns traidores houve algumas vezes". Para logo responder às críticas internas do PSD, as quais classifica de "traição que os portugueses registam e não vão esquecer". Mas Santana logo delira: "demite-me, Sampaio, a única alternativa que me resta é ser por ti vitimizado". Para Pedro criticar os críticos que deveriam, na sua opinião, ter apresentado alternativas à sua governação durante o último congresso do PSD, em Barcelos. Até que Santana medita, porque Salazar mandou em nós durante quarenta anos: "sou primeiro-ministro há quatro meses e se o país está com problemas é por causa dos que foram primeiros-ministros antes, não é por causa das medidas que tomei em quatro meses”, manifestando o desejo de "ter o mesmo tempo que outros, para poder deixar o País melhor do que encontrei". Durão Barroso não foi excepcionado.



O número "adestrador de elefantes" sempre foi de grande interesse para adultos e crianças. Fazer um enorme paquiderme ajoelhar-se nas patas traseiras e sentar em um tamborete colorido, consegue, até hoje, arrancar aplausos da multidão.

"Deixem-me trabalhar", pediu Santana a Pedro, durante a inauguração do novo edifício da Santa Casa da Misericórdia de Ribeira de Pena. "Quem, sendo militante do PSD, quisesse apresentar as alternativas, que o tivesse feito no congresso", afirmou o primeiro-ministro, considerando que "não o ter feito e continuar a fazer barulho é uma forma de traição que os portugueses registam". Na ocasião, Lopes defendeu que "o ex-primeiro-ministro naturalmente estava a referir-se à necessidade que o País deve ter de procurar os melhores e mais capazes". Lembrando que "os governos de Cavaco Silva também tiveram problemas por força da conjuntura internacional”, Santana Lopes garantiu que Portugal está a recuperar ao nível da União Europeia.



O desfile pelas ruas é indispensável à propaganda. Gaiatamente vestido o tocador de bumbo vai à frente do grupo entoando o refrão: - Hoje tem espetáculo? - Tem sim, Senhor... - O palhaço o que é? ...



Hoje já Santana anunciou hoje que irá reunir-se novamente com o Presidente da República depois de amanhã, para analisarem a crise governamental provocada pela demissão do ministro do Desporto e da Juventude, Henrique Chaves. Nomeie a Clara Ferreira Alves sua médica pessoal, dada a doença de heterónimos. Arnaut e Sarmento apenas são enfermeiros.




Finda a temporada o Circo vai partir. A desmontagem é feita. Novos locais serão visitados; a alegria mudará de lugar... De qualquer maneira, o Circo continuará a ser a primeira escola de teatro, com uma farta gama de dramaturgia, de onde já saíram e continuarão a sair consagrados artistas.

Vale-nos que quando Pedro se junta ao Santana e este se mistura com o Lopes o resultado pode ser a promessa feita onte em Trás-os-Montes: que, em 2005, o Governo que lidera vai sair para a rua e dedicar um mês do ano a cada um dos 12 distritos mais carenciados do País. O chefe do Executivo não terá explicado como pretende colocar em prática esta medida, embora tenha deixado a ideia de que pretende transformar o Governo numa espécie de Executivo itinerante. "Já não se consegue conceber um país em que o primeiro-ministro e os ministros estão sentados no Terreiro do Paço. É preciso ir aos sítios e ao terreno», defendendo que «ninguém deveria ser membro do Governo central sem primeiro passar pelo Governo autárquico».