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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

27.11.04

Pérolas da pátria vista da blogosfera



Zé veio a terreiro e proclamou que Maria não tem razão quando diz que o respectivo sítio é o mais lido de Portugal. Porque Maria não tem um contador do Sitemeter, como a maioria dos outros. Logo, só se for para o metrómetro do Jaquim é que ele pode dizer que é. Só estando lá é que somos. Só assim enchouriçados é que acedemos ao novo. Maria é como os que preferem manter uma situação de falta de transparência e dizer que são os mais lidos sem que alguém possa, objectivamente, confirmar a veracidade da sua afirmação. Porque tudo depende dos links e os links oriundos do Zé não são aqueles que mais leitores adicionais geram, mas sim os links do Manel. Isto pode não dizer nada, mas acho que quer dizer qualquer coisa.

Por outras palavras, certos blogos querem ser uma casta de transição, os donos da tecla e do fio que nos enfiam. Chegam, teclam e vencem, ditam e mandam. Mas apenas cá estão porque querem ir para outro lado. Para a edição, para o jornal, para a televisão, para o vedetismo deste Estado-Espectáculo onde aquilo que parece é aquilo que se usa para se ter e não para que possamos ser.

Ainda hoje, alguém me confidenciava em mail: como dizia o Arpad, também se não deixa indiferente aquelas pessoas que por assim não escreverem, querem distanciar ou criticar ou fazer calar ao mundo, uma mão direita diferente da dos demais. É que o realmente difícil para a maioria é, tão só, o facto da tal diferença existir. Para eles diferença é igual ao despertar de estranhas invejas…Tudo isto para lhe dizer que aquilo que eu faço melhor na vida, nunca me trouxe a importância da escolha inerente ao que se faz com reconhecida qualidade... Assim, ... e face ao horror da vida que levo é bem preciso morrer a tempo do que prolongar agonias sem remédio e dizer ou simular que assim também se vive.

Por tudo não sei qual a diferença entre alguns blogomedidos e os seguintes excertos:
Os nomes que se seguem são reais, por mais incrível que possa parecer. São passíveis de serem encontrados na base de dados de um banco (balcão do Banco Espírito Santo) em Alcagaitas do Sul:
Liberdade de Jesus Narigueta Perna Torta Banha
Cidália Calçada Descalça
Norlinda Rapa Buraco
Maria Ténia Viu Vultus
Etelvina Vaca Cabeça
Joaquim Cuecas
Luis Fortes Lopes Carago
Maria Teresa Rabo Bacalhau Molho
António Agostinho Chouriço Junior
Maria Bem Grosso
Joaquim Bagina
Paulo Puns Dá
Maria Trombasia
Ignácio Bufa Bucelato
Maria Salva Um de Cada Vez
José de Sousa Rabito Magro
Maria Augusta Rata Seca
E a vencedora é:
Maria Salva Um de Cada Vez

Sim, doutor Cavaco! Não é com esta gente que vamos a algum lado. A direita e a esquerda a que chegámos têm a marginalidade que merecem, apesar dos muitos bailados e da ascensão dos bajuladores, dos histéricos e dos excitados. Como diz a síntese deste paralelograma de forças, um exemplo de competência e coerência da classe que nos partidocratiza, o problema é que tudo se complicou. Começou a perceber-se que havia exigências a cumprir e que nem sempre eram simpáticas. Aquela coisa que era distante e pródiga ... passou a ser também exigente e castigadora. Logo, é natural que as opiniões se dividam entre a simpatia e o descontentamento. A mãe coligativa só pode ser assumida como um todo. Não se pode aderir à parte boa e afastar o que menos agradável se impõe. Toda a gente sabe disto. Tenho, por isso, muito receio de que a tentação da luta política interna se tenha sobreposto ao interesse nacional. Noto um grande silêncio à volta desse ponto. Sinto, para muitos, a ilusória conveniência do não. Apenas lhe digo, antigo homem de um leme que já não há, que, se esta coisa em figura humana continuar com seus discursos e artiguelhos, Álvaro Cunhal é um herói.