Um guerreiro solitário que apenas alvitrou

Li em Alvitrando: Esta é uma crítica feita, no XIII Congresso extraordinário do PCP realizado em Maio de 1990, ao que se passou nos países de Leste:

"Verificou-se entretanto que o marxismo-leninismo veio impor-se, não tanto pelos grandes desenvolvimentos teóricos efectivamente ocorridos nos mais variados ramos do conhecimento, mas mais como doutrina do Estado. O marxismo-leninismo foi frequentemente dogmatizado e instrumentalizado para justificar práticas ultrapassadas, aberrantes ou especulações desligadas da análise concreta das situações concretas, conduzindo à sua vulgarização apologética e consequente incapacidade de conhecer com rigor científico e espírito dialéctico vários domínios da realidade, incluindo aspectos importantes tanto do socialismo como do capitalismo. A repetição escolástica dos clássicos e de conceitos absolutizados não permitiu encontrar respostas criativas para as novas situações e problemas".

Mais adiante, no mesmo sítio, também li:

Álvaro Cunhal celebrou ontem 91 anos de idade. A propósito, Miguel Urbano Rodrigues esreveu, no semanário Alentejo Popular um artigo em que afirma que "poucos portugueses marcaram tão profundamente a história do nosso país no século XX. Talvez nenhum tenha sido tão caluniado e injuriado pelas forças da reacção e por todo um feixe de adversários de múltiplos quadrantes ideológicos". Parabéns e longa vida camarada!

O autor é Lopes Guerreiro, autarca na Câmara Municipal do Alvito, Beja, que no Congresso do partido defendeu que o PCP "vive uma crise de identidade, de valores" e enfrenta até situações de "falta de respeito entre camaradas". Sugeriu a retirada dos estatutos da referência ao centralismo democrático. "Por mais democrático que seja, é sempre centralista", criticou, defendendo que "todas as votações que envolvam pessoas" sejam sempre feitas por voto secreto. "Temos de enfrentar sem preconceitos a necessidade de mudança no partido. A rejeição destas propostas mostra que não há internamente a vontade de aprofundar a democracia interna", afirmou. No final da intervenção, os cerca de 1300 delegados e os convidados dividiram-se entre assobios e vaias e aplausos, o que suscitou uma chamada de atenção por parte do dirigente José Soeiro, que dirigia os trabalhos na presente sessão. Parece que Guerreiro tem barbas brancas e que não se chama Pacheco Pereira.

O dissidente Edgar Correia, no Jornal de Notícias de 29 de Novembro, observa: Não há retórica obreirista que consiga ocultar o significado essencial do congresso que ontem terminou em Almada não foi um congresso dos comunistas portugueses, foi o congresso de uma parte do PCP, transformada em seita e mobilizada em estilo rambo, contra outra parte do PCP, um "inimigo interno" constituído por muitos milhares de comunistas, na sua grande maioria ausentes ou não representados. Do mesmo jornal, transcrevemos o retrato de Jerónimo: "nascido a 13 de Abril de 1947, em Pirescouxe, freguesia de Santa Iria de Azóia, em Loures, onde ainda mora, iniciou-se nas lides sindicais ainda jovem e, em 1973, pertencia à direcção do Sindicato dos Metalúrgicos de Lisboa, onde esteve dois anos. À frente de um Comité Central (CC), cuja maioria são funcionários do partido, nunca o foi. Não esteve na clandestinidade nem preso e só aderiu ao PCP, a 29 de Abril de 1974. Em 1979, estava no CC acumulando com o cargo de deputado que exerceu de 1976 até 1992. Dez anos depois voltou a S. Bento". Acrescente-se que, além de comunista, é do Benfica, assume-se como um avô babado e porque respira autenticidade, apesar de ser meu adversário, tem, de mim, toda a simpatia não malévola, porque também eu sou um rural, entre o peri-urbano e o suburbano, que gosto de agricultar em meu quintal. Não padeço do racismo social das linhas de Cascais e da Foz ou de muitos graduados em bacharel pelas universidades que deceparam a grande universidade jornalística do Bairro Alto.