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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

3.12.04

Mais política e menos Estado, mais povo e menos tecnocracia

Olhando o país de um cibercafé tripeiro, temo que a teatrocracia dos anúncios de candidaturas seja uma floresta de muita parra e pouca uva. O muito barulho que não nos deixa trabalhar numa alternativa de um novo ciclo para este regime. Julgo ser uma ilusão todos estarmos a glosar o manifesto Cavaco Silva, sobretudo brincando aos bórgias, onde o apelo aos mais competentes soa a darwinismo da luta pela vida, com um acrescento de teoria elitista michelsiana, assente na contradição suprema.

Porque os maus políticos da péssima partidocracia que nos esmaga são quase todos filhos do próprio cavaquismo que, num passe de mágica, quase assume o papel de bombeiro disponível para apagar os fogos que ateou. O santanal e o barrosal são criaturas geradas pelo criador-Cavaco e quase se torna ridículo esse paradoxo de um apelo à legitimidade da competência a partir da legitimidade carismática. Porque em nome do homem provindencial não podemos assumir a meritocracia.

Se calhar era melhor assumirmos leituras de teoria da democracia um pouco mais recentes. Cem anos depois de Darwin e Comte, há que repensar as teses da poliarquia e do elitismo democrático, sem a ganga tecnocrática. E exigir que a política seja superior à economia. Só haverá democracia se clamarmos por mais política e menos Estado, por menos partidocracia e por mais povo.