A angélica queda dos senadores...
Os quatro senadores, que a RTP elevou à imagem de olímpica serenidade, transformaram-se, com a aproximação das eleições, no mais do mesmo politiqueiro, quando, perdendo a dimensão do concílio dos deuses, trataram de assumir o cajado inquisitorial dos marechais da república, entrando no leilão dos apoios às forças em disputa de lugares governamentais, não para serem ministros, mas para influenciarem, et pour cause.
Ao contrário dos recatados setenta anos de Ramalho Eanes, aqueles que pretendem usurpar a memória do "Senatus" de Roma, para desvalorizarem o "Populus", entraram em regime de queda dos anjos, quando, pouco a pouco, se foram conhecendo os meandros das prebendas de "potestas" que possuem e que, muitos, face à espuma dos "media", continuam a confundir com a "auctoritas".
Os nossos ausentes-presentes não passam daqueles falsos deuses que, como os restantes mortais, e cidadãos, entraram no jogo eleitoral, mas sem terem que ir às feiras dos coiratos, ao incómodo dos comícios e outras formas de mãos sujas. Um, acumulando avaliações, academias, júris, distribuição de subsídios, reitorados honorários, medalhas de poeira e algumas vindictas, fica-se, muito recatadamente, por um almoço no Grémio Literário com o chocador de valores.
Outro, adicionando posturas políticas, depois de quase estar para ser ministro de Marcello Caetano, fundou um partido ao centro que se coligou com o PS, primeiro, e com o PSD, depois, para ser candidato do PSD, zangar-se com Cavaco e voltar à liderança do CDS que, entretanto, abandonou, para receber de Durão Barroso a indigitação para a ONU, pedir para ele a maioria absoluta e agora fazer o mesmo com o chocador de tecnologia.
O terceiro, mais igual a si mesmo, com direito a televisão, mas sem necessidade da intermediação de Portas e Guedes, esquecido das antigas e juvenis ligações a Soares Martinez, Kaúlza de Arriaga e Adriano Moreira, tendo o engenho de inventar o Expresso e a SIC, sempre teve a coragem da monogamia partidária. Não precisa do choque de gestão. É o número um, quando estava em três. E assim vai ficando, empresarial.
O último, pater reipublicae, sentado na serenidade dos oitenta anos e na fundura de uma uma instituição, para onde mobiliza as memórias de 1820, 1910 e 1974, é o verdadeiro Rómulo do regime, manipulando a loba da pátria e dando aos outros candidatos à "auctoritas" breves adjectivações, contidos silêncios e uma outra massagem espiritual.
Quando, para se conseguir a "potestas", se finge viver no etéreo da "auctoritas", a república entra em regime de contrafacção e o antiquíssimo símbolo "SPQR" corre o risco de ser usurpado pelo imperialismo do principado e o eventual desvio do dominado, com os senadores a assumirem-se como falsos deuses que procuram ser um qualquer "dominus". Pelo menos, na minha aldeia, sempre se dizia que o "senatus populusque romanum" apenas queria dizer que o "Senhor dos Passos Quer Respeito". E tudo acontecia sempre depois do Carnaval e antes do começo do roxo período da Quaresma, onde se conta da história do Iscariote que foi à ceia que acabou por ser a última. Por cá, a cena é outra, é apenas a dos cardeais contando estórias e comendo literatura de cordel...
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