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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

25.1.05

Capitaleiros, gerontes, gripes e viúvas



A direita a que chegámos e a esquerda que aí vem são, de facto, o mais do mesmo, essa santa aliança laica entre a direita que convém à esquerda e a esquerda que é serventuária da direita dos interesses, entre a teledemocracia e a democratura, entre a ditadura da incompetência e a anarquia mansa. E por mais carrinhos de choque que nos prometam, entre o choque de gestão e o choque tecnológico, os socrateiros, os lopiseiros, os porteiros e os louçaneiros continuam a fingir que é verdade a mentira que os sustenta: como diria D. Carlos, fomos, somos e poderemos continuar a ser, um país de bananas governado por s...., isto é pela união de facto do centralismo capitaleiro e do caciquismo bairrista, onde o primeiro continua a usar a técnica do dividir para reinar.

Basta reparar no estudo sobre o poder de compra concelhio por habitante, divulgado pelo INE, onde se mostra que 21 concelhos detêm metade do poder de compra nacional (Lisboa e Porto concentram quase um quinto), cabendo a outra metade aos restantes 291 municípios.Entre os 10 concelhos com menor poder de compra em Portugal metade são do distrito de Viseu, dois da região autónoma da Madeira, um do distrito de Braga, um do distrito de Vila Real e outro dos Açores.Todos esses concelhos têm menos de metade do poder de compra médio nacional por habitante, tendo o mais desfavorecido um poder de compra por habitante 6,6 vezes abaixo do verificado na capital.



Basta atentar noutro estudo divulgado pelo Observatório Português da Juventude revela que apenas 13,5 por cento dos inquiridos afirma pertencer a alguma associação.Relativamente à participação em actos eleitorais, mais de metade (51,3 por cento) da juventude portuguesa de hoje anda afastada das urnas de voto. A maioria alega que não estava perto de uma mesa de voto em dia de eleições ou que tinha algo mais importante para fazer (26,2 por cento).Quase metade dos inquiridos (46,9 por cento) não identifica uma clara orientação política, embora aqueles que têm opinião política se situem ligeiramente mais à direita.O estudo revela ainda que a maior preocupação dos jovens portugueses é o desemprego (41,5 por cento). O custo de habitação, a procura do primeiro emprego e o acesso ao ensino superior são outras das referências. A compra do automóvel ou de moto também se torna relevante para uma parte significativa dos jovens.

Por isso, arriscamo-nos a não ter novas de campanha no dia de hoje. Porque o primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, cancelou os seus compromissos para terça e quarta-feira, por motivos de saúde. Segundo uma nota de S. Bento, o cancelamento acontece «por indicação médica, devido a anginas e gripe». E não consta que tenha assistido ao vivo à teoria da nova tecnologia emitida ontem pelas desafinadas cordas vocais do ex-picareta falante.



Porque tanto é fogo de artifício a palavra de ordem de Luís Felipe Menezes ("o voto com utilidade é o que determina alguma coisa. Nestas eleições, serve para escolher o primeiro-ministro e, neste aspecto, votar CDS é votar em José Sócrates»), como atinge as raias do ridículo a afirmação de uma secretária de Estado, especialista em traduções e neta de um militar, sobre o respectivo chefe, Portas ("É uma pessoa tão rica, que é difícil sintetizar. É de uma inteligência absolutamente arrebatadora e tem uma grande capacidade de trabalho, que se associa a uma enorme entrega e vontade de fazer o bem público. Trabalha quase 20 horas por dia e nota-se uma genuína preocupação em agir e mudar as coisas").

Ficámos, pelo menos, a saber os objectivos secretos de Matilde Sousa Franco, ao aceitar um lugar de cabeça de lista em Coimbra: quer ir para a presidência da Santa Casa da Misericórdia ... de Lisboa, em lugar da ministra do sonhado governo do Caldas, não para lhe suceder, mas para continuar a obra de Fernanda Mota Pinto. Presidente Sampaio tem razão: tudo isto é triste forma, tudo isto é fado...enviuvado.