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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

24.1.05

Somos uma nação com 800 anos...



Depois de tristemente sorrir com a última tirada de Pedro Santana Lopes sobre Sócrates ("os meninos na escola, quando um não quer ir brincar, tem medo de um brinquedo, chamam-lhe um nome..."), decidi seguir atentamente uma entrevista concedida por Eduardo Marçal Grilo, político pretensamente antipolítico com quem nunca simpatizei por aí além, tanto por ter sido um ministro educativo que se assumiu como neto de Veiga Simão, como, sobretudo, por me sentir alérgico a certos especialistas em modernização que, em cada cinco ideias que transmitem, citam o último livro que compraram em Nova Iorque. Por isso mesmo, me sinto à vontade para lhe lançar um justo elogio, verificando que, afinal, ainda resiste o menino que não se esqueceu da sua Beira Interior e do seu liceu de Castelo Branco.

Concordo plenamente quando ele diz, do PS e do PSD, que estes dois partidos foram tomados por interesses muito parecidos, interesses intermédios existentes na sociedade portuguesa. Isto é, de corporações, de grupos de interesses económicos. Não os grandes, mas os intermédios..., nomeadamente o imobiliário: tem uma enorme importância para estes partidos. Os dois partidos deixaram-se infiltrar.

Subscrevo entusiasticamente a análise que faz das nossas elite que estão um pouco desnacionalizadas. Assumem-se como cidadãos do mundo, da globalização, e têm um certo snobismo intelectual de distanciamento em relação ao que se passa no país. Temos de tudo, é certo, mas temos um conjunto de pessoas que fazem um pouco gala em dizer que estão desligadas dos problemas do país. Estão mais ligadas aos centros externos, e isso é muito negativo. Não sou um nacionalista, mas tem de se ter consciência que somos uma nação com 800 anos, que temos um papel a desempenhar. Apenas acrescento que, se esta análise não é nacionalista, já não sei o que é o nacionalismo. Às vezes são precisas estas pedradas no charco, com o requinte de um especialista em mecânica aplicada, titulado por uma escola britânica que não tem medo de ainda se assumir como "Imperial College"...