Os gambuzinos e os paus-mandados, com adequado manual de subida ao poder
Um ruralão como eu que nem sequer usa a vestimenta, física e mental, com que as leis sumptuárias o pretendem aprisionar, sendo daqui, deste quintal da Europa donde vê passar os petroleiros e os barcos de cruzeiro dos outros, pode, preso aqui, nem sequer estar aqui, a não ser pelo exílio voluntário e o dever de revolta. Qualquer português antigo que goste de inovar e de escapar às algemas de um tempo abafadiço, quando quer adiantar-se a este tempo de descalabro, chega sempre antes ou depois dos que sabem aproveitar as janelas da oportunidade e sabem ser os donos do Estado-Espectáculo.
Eles, os mandadores, são bem mais do que o politicamente correcto, do que o simplesmente normalizado pelo "agenda setting". Guardam, em seus trejeitos, sinais de truquemada e assumem-se, sem até o saberem, como meros agentes dos novos invasores, esses caixeiros viajantes do desencanto, esses homens sem sonho, essa gente sem fé. Porque deveria ser interdita a discussão hipócrita de coisas sagradas, como Deus, vida, pátria, democracia e até política. Dessas coisas supremas sem as quais não seríamos mundo, indivíduos, portugueses, cidadãos, ou até animais de voz, com discurso ou razão.
Se eu mandasse sem ser mandador, se eu mandasse, como missionário da profunda corrente a que me prendo, garanto que seria fiel ao pensamento de que sou parcela. Mas sei que os homens livres jamais podem mandar, porque já não parece bem que os homens sejam meninos de seu sonho e de sua mãe. Porque nos pedem que esqueçamos de quem na verdade somos.
Ei-los os pretendentes às velhas cadeiras do poder, neste concurso televisivo onde muitos eleiçoeiros apenas circulam à procura das migalhas das muitas cunhas que podem cair da corte. Pobres, coitados, esses cansados de não serem, ei-los definhando em sonho, ei-los na fileira dos que esperam um qualquer naco dos secretos pilha-galinhas, mas já sem a esperteza dos velhos raposas.
São mais felíneas imitações que ronronam nas canelas de um pretenso "yes, minister" e, de unhas aparadamente domesticadas, apenas pedem que os dourados impulsos da silenciosa gritaria, lhes dêem, na secretaria, o que não conseguiram no campo, pelo jogo leal e aberto, dito "fair play". Eles preferem jogatanas e salamaleques de salão, prometendo sempre competência, honestidade, convicção e lealdade, mas na primeira sessão da distribuição do tacho, logo caem no beija-mão dessas tristes e depencadas criaturas que o jogo do acaso transformou em distribuidor dos recursos políticos deste sistema fechado. Deixá-los pensar que podem mandar, esses paus-mandados, emissários que são dos comissários que nos querem encadernar.
Palram pega e papagaio/ E cacareja a galinha/ Os ternos pombos arrulham/ geme a rola inocentinha...Todos eles são tão reais como os gambuzinos da minha infância, nesse misto de patinhos e tio patinhas. E nem sequer atingem as dimensões escoteiras dos sobrinhos do Donald. Não passam de meros arremedos dos novos irmãos-metralhas que cedem às indulgências do grão-mestre dos patetas. Os passarinhos / tão engraçados/ Fazem os ninhos/ Com mil cuidados...
Julgamos que tudo pode ser superado num magnífico manual de campanha oriundo do Brasil a que tive acesso por acaso:
COMO INCUBAR OVOS EM CHOCADEIRA
(Este guia tem por objetivo ajudar as pessoas interessadas em incubar ovos usando chocadeiras. Incubar é uma atividade cheia de detalhes e encantos, mas a falta de conhecimento pode levá-lo facilmente a desistência. Neste guia forncemos todas as dicas para você ter sucesso neste negócio. Enviamos por email).
COMO CRIAR E CUIDAR DO SEU PAVÃO
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Uma volta pelo mundo fascinante e assustador dos galos de brigas. Guia eletrônico, enviamos diretamente para seu email - não há despesas com correios.)
MANUAL DE FORMULAÇÃO DE RAÇÕES
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