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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

20.1.05

O futuro governo de salvação nacional-revolucionária



Só quem não quer ver e ouvir, anda ensonado por causa do Prozac ou sobressaltado com as pastilhas azuis, é que não repara como o noticiário da TVI tem primado pela imparcialidade e isenção face aos principais concorrentes ao próximo acto eleitoral, onde o PCP é gozado, o BE admirado, o PSD achincalhado e o PS esmifrado. Dos outros, o silêncio.

Bastou notar os elogios de Manuela Moura Guedes à apresentação do governo virtual do CDS-PP, tão verdadeiro quanto o mesmo partido estar prometido, com papel e tudo, à futura coligação governativa com o PSD. A não ser que Pedro Santana Lopes comece a entender que pode estar à beira de uma catástrofe por causa da tacticismos e "gaffes", onde há uma dessas cabalas objectivas que marcam golo na própria baliza.

Portanto, da pretensa equipa popular, não falaremos "à séria", até porque, segundo outra emissão informativa do grupo Paes Amaral, "CDS admite viabilizar Governo minoritário do PS". Aliás, seria difícil falar de algumas pessoas que conheço, de outras que reconheço e de uma maioria que não conheço nem reconheço, com muitas cacafonias dos "petits noms", onde muito carinhosamente tudo vai do toninho ao féfé, da zézinha a outros luizinhos, rosarinhas, dioguinhos e telmíssimos. Apenas apetece dizer que eu também sei que eles sabem o que eu sei, mas não me deixam dizer, acrescentando que até o rato Mickey pode ser secretário de Estado desta equipa.



Largando esta passagem pelo fútil na Disneylândia, com muita "lealdade", "convicção" e "competência", apenas desejo, para bem da pátria e de muitas famílias e idiossincrasias, que o futuro governo seja mais abrangente, misturando o Paulo Portas da esquerda com o Francisco Louçã da direita, para a necessária solidariedade de classe, contra os saloios e provincianos, esses feios, porcos e sujos que querem assaltar a solidez comandante da gente fina. Assim se cumprirá, com toda a etimológica histeria, o rigorosamente ao centro, com aplauso dos notáveis senadores da república!

Aliás, o chamado debate entre os dois não passou de um monólogo a dois, onde, desta, Portas não chamou Celeste Cardona a Louçã, bastando-lhe um carinhoso "vá lá, Francisco". O mais atacado pelo líder do PP acabou por ser Sócrates, porque não convinha pisar o terreno armadilhado pela competência de um brilhante doutor em economia. O ministro da defesa até pouco respondeu às provocações sobre política internacional.

Portas foi surpreendente ao elogiar o presente sistema eleitoral, que só não terá funcionado quando houve um empate. "Culpa dos constitucionalistas", disse o ministro, esquecendo que a coisa deriva dos constituintes-politiqueiros e acabou por ser resolvida por um queijo limiano. Mais notável foi ainda quando decidiu santificar a defesa do Tratado Constitucional Europeu ao lado da NATO, sem referir que um de dois dos respectivos deputados votou contra a coisa do Giscard. E face à acusação dos 516 000 desempregados, respondeu com os 4 500 postos de trabalho que terá defendido, cedendo à lógica antiliberal da defesa de empresas estaduais pela injecção de capitais públicos. "Lá vamos, cantando e rindo..."

Louçã foi sóbrio, tecnocrático, anti-guerra, com muitos números, sentado na sua autoridade de professor da pretensa rainha das ciências sociais, apenas obrigando Portas a perder tempo com a defesa de Bagão e da tal banca que "nunca foge", mas atrapalhando o líder do PP quando não lhe admitiu que fizesse doutrina sobre o direito à vida: "o senhor não sabe o que é gerar uma vida".

Paradoxalmente não houve facada nem muitos dedos em riste, porque sempre esteve presente o espírito do mano Miguel. E como disseram os moderadores, eles, porque estavam em "pólos opostos", vivem naturalmente em polarização, mais irmãos do que inimigos, muito diferentes, mas todos iguais, sobretudo na abstracção de palavras como "verdade" e "mentira", ou em declarações como "a economia serve para criar qualificações", com muitos "postos de trabalho" feitos números e algumas "contas", mas com muita falta de pessoas vivas, aldeias, agricultura, mar e terra, onde nunca foram proferidas as sagradas palavras de "povo" ou de "nação", porque ambos nos falaram "do alto da burra", com delicadezas de colégio fino.