A consciência tranquilamente doméstica
Lê-se no CM: Os filhos do presidente da Câmara Municipal do Sabugal, António Esteves Morgado, foram os vencedores dos concursos públicos, lançados pela autarquia nos últimos dois anos, para a contratação de um veterinário municipal e de uma técnica superior na área da sociologia. Os críticos acusam-no de abusar do seu poder como presidente da Câmara para beneficiar os filhos António Carlos e Ana Morgado, mas o autarca responde, em declarações ao Correio da Manhã, que “nunca soube que meus os filhos iam concorrer aos concursos” e “tenho a consciência tranquila”.
Apenas apetece dizer que o mesmo autarca, porque é bom pai de família, tem, naturalmente, a dita consciência em tal sítio. Como pai de jovem cientista desempregada, manifesto a minha solidariedade para com os valores de familiariedade praticados pela presente partidocracia de Norte a Sul, na periferia e no interior, no centro e no estrangeiro, mas apenas invoco a velha máxima do sapateiro de Braga: haja moralidade, ou comam todos.
Quase me faz recordar a colocação de filhos, filhas e cônjuges de certos professores catedráticos e de certos dirigentes académicos em certas escolas de certas universidades portuguesas, precisamente por algumas figuras que por aí continuam a apregoar a autenticidade e o institucionalismo, em nome de certa ética republicana, onde princeps a legibus solutus (quem manda está isento da lei a que apenas estão obrigados os outros) e quod princeps dixit legis habet vigorem (olha para aquilo que eu digo, não olhes para aquilo que eu faço), princípios sobre os quais alguns manitus, também de consciência tranquila, continuam a discursar.
Felizmente, no ensino superior público, mesmo antes das avaliações, tudo tem sido implacável relativamente a acumulações. Apenas não abrangeram no ritmo proibitivo as acumulações dos avaliadores e de alguns deputados que aprovaram a lei, especialmente quando eles acumulam com funções políticas, pensões de aposentação e reforma ou quando utilizam a técnica de se assumirem como professores convidados. Manda quem pode, obedece quem deve... (aconselho um tal José da Grande Loja a notar que já há muito que não uso punhos de renda e que por isso mesmo vou sendo saneado de todos os lugares onde os manitus acumuladores podem exercer a vindicta, coisa que muito me honra atendendo às distintas personalidades que, antes de mim, viram tais unhas aduncas demiti-las, principalmente no tempo da legalidade salazarenta).
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