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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

20.1.05

Verbeteiros que, mui discretamente, trocam fichas da secreta



Conforme podemos ler hoje no jornal "Público", apesar de estarem em gestão, os membros do Governo continuam a fazer nomeações de adjuntos e chefes de gabinete. Entre o dia 30 de Novembro e o de ontem, foram publicados em "Diário da República" 2446 despachos de nomeação, de vária ordem.

No entanto, o primeiro-ministro de Portugal, discretamente informado pelo seu gestor de coisas secretas, declarou solenemente num comício, em Almada: "Julgo que ainda hoje é Inspector Geral do Ambiente um dirigente da administração pública nomeado pelo novo líder do PS [então ministro do Ambiente], já depois de Durão Barroso ter ganho as eleições. Já nem sequer era simplesmente um Governo de gestão", precisando que se referia a Filipe Baptista.



Algumas horas mais tarde, ficámos a saber que foi tudo uma troca de nomes. O membro da comissão política nacional do PSD, ex-colaborador de Santana em muitos sítios ajudenses e figueirenses e célebre por pensar que pode invocar a fluidez do discreto e do secreto, pensando que isso o torna impune, lamentou a troca de nomes no discurso do primeiro-ministro, assumindo a sua própria culpa. Isto é, cumpriu a tarefa para que é pago pelos contribuintes de gestor de um cargo público bem ambientalmente ensopado: meteu água!

E para o efeito, utilizando as estalinistas invocações, típicas de sargentos verbeteiros, apresenta outra ficha, constante do Diário da República de 12 de Abril de 2002, seis dias depois do XV governo tomar posse e consagrada pelodespacho nº 276/2002. Mais informou que, afinal Filipe Baptista, foi nomeado para esse cargo pelo ex-ministro social-democrata Isaltino Morais (e não por José Sócrates), tendo tomado posse em Agosto de 2002.



De qualquer maneira, o porta-voz do PS, Pedro Silva Pereira, já insistiu que a acusação do presidente do PSD a José Sócrates "não tem qualquer fundamento", acrescentando que "O PS aguarda de Pedro Santana Lopes um pedido formal de desculpa ao seu secretário-geral, José Sócrates. O PS espera que esse pedido de desculpa chegue durante o dia de hoje".

José Sócrates e Pedro da Silva Pereira parecem já estar cientes que todas as respectivas fichas constantes do Ministério do Ambiente ainda não foram co-incineradas e podem conter dados sobre a respectiva genealogia partidária direitista ou idiossincrática, esperando-se ansiosamente que em próximo comício do PSD venham mais alguns dos dados fornecidos pelo candidato nº 5 do PSD na lista encabeçada por Zita Seabra que, felizmente, conhece bem a metodologia do KGB em Portugal, tem memória dos métodos da PIDE e pode, com alguma facilidade, inteirar-se dos processos anteriormente usados pela formiga branca e pela Santa Inquisição que, em tal cidade, tem pátio com tal nome, por acaso encravado entre o edifício da polícia e a Rua da Sofia.

Portugal tem que impedir que a impunidade politiqueira possa reduzir pessoas a meros nomes que, abstractamente, podem ser trocados, sujeitos a truque ou simplesmente truncados, só porque se julga que, em campanha eleitoral, os fins justificam os meios. O discurso de Pedro em Almeida, afinal, parece o que aí foi proferido por Vasco Gonçalves. E as coincidências dos actores secundários que mudaram de extremo, mas mantendo a mesma metodologia, não parecem ser mero acaso. Apesar de tudo, Pedro merecia melhor.