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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

15.1.05

Reacção de Rumsfeld ao anúncio da retirada da GNR do Iraque



Neste começo de fim de semana, quando, na minha velha biblioteca de retiro, andava à procura da primeira edição de "Le Portugal Bailloné" de Mário Soares, onde se relatam as histórias dos "tumores a extirpar", que foram suprimidas nas posteriores traduções portuguesas, redescobri uma curiosa edição checa do livro de Orwell, o "Animal Farm", que comprei num velho grémio literário do Chiado, onde, já não sei em que capítulo, se conta a história do almoço que o líder da quinta deu a único capataz do anterior regime de exploração agrícola que ainda se mantinha nela, depois do triunfo dos bichos.

Aí pode ler-se este naco de bela prosa transatlântica e luso-tropical: "ambos quisemos que este almoço fosse público. Discutimos a situação do ambiente geopolítico que rodeia a quinta . Ouvi as opiniões do velho capataz sobre as questões essenciais. Saí com a convicção reforçada de que a nossa quinta deve ser a quinta com mais sentido de Estado e mais sentido de responsabilidade; devemos valorizar uma visão estratégica do futuro da quinta e ajudar a que as instituições recuperem a sua respeitabilidade. Como sempre, foi uma conversa muito agradável e muito útil".

Já no fim do literário repasto, e depois de uma passagem pelo Largo do Carmo, futura sede da reitoria da Universidade Nuno Álvares que terá como símbolo uma velha "Chaimite", onde se incluirá um velho quadro a óleo de Marcello Caetano, sob os vidros fumados do tempo de vésperas, acrescentou: "neste início de campanha eleitoral, não podia receber melhor sinal de encorajamento do que o do velho senhor. Estou-lhe muito reconhecido por este gesto e parto com ânimo redobrado". Porque ele "deixou na quinta uma notável marca doutrinária. Creio que é, na quinta, o capataz mais estimado pelos animais livres, que conhecem e reconhecem a sua craveira intelectual e a sua clarividência nas grandes questões do Estado e na sociedade civil".



No capítulo seguinte, continuando a saga animalesca, conta-se da refeição para que foi mobilizado o leitão-pai que, apesar das divergências com o antigo capataz, acabou por reconhecer o apoio que o chefe da quinta lhe deu nessas antigas e esquecidas sagas da velha Fundação Século XXI, que acaba por cumprir o respectivo destino-manifesto, que constará das memórias que a professor do politécnico Maria Elisa está a escrever, a partir de fotocópias do arquivo Salazar, cedidas por José Freire Antunes. Aliás, não podia deixar de reconhecer o brilho governativo da genealogia leitónica no recente governo da quinta.

A reportagem integral destes almoços de campanha foi, aliás, difundida em DVD por todo o espaço do chiqueiro, em edição crítica, incluindo velhas crónicas do semanário "O Independente", com apreciações do então jovem director sobre o velho capataz, para que já foi prometido um prefácio do antigo secretário-geral da Associação de Viúvas do Professor Diogo Freitas do Amaral, agora candidato pelo Movimento Humanismo e Democracia, integrado na plataforma socrática. Nele consta a seguinte frase proferida pelo ministro da defesa do último governo socialista, em 5 de Abril de 2002: "congratulo-me por deixar abertas as portas para a realização imediata de três reformas fundamentais: a da justiça militar, a integração do subsistema de saúde militar e a aprovação de um novo sistema de ensino-formação tendo como vértice a Universidade das Forças Armadas".

Compreende-se, assim, o desespero da frase de Pedro Santana Lopes ("o CDS passou a ser a fonte de todas as virtudes"), proferida depois de o Professor José Veiga Simão recusar encontrar-se com ele na Sociedade de Geografia de Lisboa, para concorrencial repasto, vigiado pelo SIEDM, e de se perceberem as movimentações nas velhas fronteiras do Clube do Chiado, no tocante à definição de rumo do futuro ministério da defesa da era pós-pauliana, nomeadamente quanto ao regresso de D. Maria de Jesus Barroso à respectiva cruz, para que, no dia seguinte, em nome do humanismo laico, do humanismo cristão, do humanismo islâmico, do humanismo budista, do humanismo animal, etcetra e tal, um belo ramo de rosas vermelhas, oferecido pelo capataz de sempre, entretanto renomeado avaliador mor dos estragos que cometeu, comemore o regresso ao tempo em que os animais falavam. Ainda não se sabe se a cerimónia será presidida por Maria João Bustorff, Edite Estrela, Odete Santos, Joana Amaral Dias ou Teresa Caeiro.