Pequena reportagem íntima de um dia de campanha
Esta noite, desloquei-me ao círculo eleitoral onde fui honrado com uma candidatura a deputado, e que as regras do jogo deste blogue impedem que revele, dado que, aqui, nunca mencionei, nem mencionarei, o nome do partido de que sou militante. Ora, depois de uma conferência de imprensa de apresentação da candidatura, dentro da sobriedade e modéstia esperadas, quando uma rádio local me entrevistou, questionando-me sobre como sentia o "peso desta responsabilidade", logo disse que não o fazia vergado pelas ciclópicas tarefas, mas com um grande prazer. Porque o civismo impõe que aqueles que criticam, debatem e combatem, a nível do comentarismo político e doutrinário, têm o dever de sujar as mãos e de descer ao terreno, largando as celestiais alturas de quem apenas faz homílias, mas que teme o risco de ir ao sufrágio e de fazer campanhas no meio do povo.
Tenho imenso prazer na cidadania activa, no eleger, no candidatar-me, em suma, no viver a política até ao fundo, do porta-a-porta ao comício. Já o faço há muitos anos, desde a adolescência, porque, da democracia, posso dizer, parafraseando Luís Vaz, que vale mais experimentá-la do que julgá-la, embora também não faça mal que a julguem os que, infleizmente, a não podem experimentar. Até citei a velha sabedoria militante daqueles religiosos que tinham como lema o "ora et labora".
E "laborando" lá dei, e os meus companheiros, uma conferência de imprensa, na presença do líder, e com muita gente da imprensa local. A certa altura, demonstrando como pode exercitar-se o pluralismo, assumi claramente a minha divergência com o presidente do partido, quando me declarei defensor da regionalização e invoquei a minha antiga qualidade de militante do movimento "Portugal Plural", quando ele andava pelo "Nação Una". Mais acrescentei que nunca participaria num movimento unidimensional, com uso de "cassette", "disquette", "cd rom" ou "dvd". O prazer da luta política democrática enobrece quem a assume e pode ter a ilusão de viver como pensa.
Senti até o pequeno orgulho de ter sido um dos impulsionadores de uma candidatura que foi das primeiras que em Portugal, nesta campanha, lançou um blogue como suporte de unidade da mesma e como, noutros locais desta blogosfera, como tal foi reconhecido. É evidente que, por razões deontológicas, também aqui não indicarei o caminho para a ele acederem, embora tenha o realismo de considerar que, com o mesmo, não serão imensos os votos que conseguiremos. A única certeza que tenho, parafraseando José Manuel Barroso, quando ele ainda era Durão, é que as minhas ideias políticas alcançarão um lugar de deputado. Só não sei é quando... E, se seguir na senda da frase glosada, até pode acontecer que seja já nestas eleições. Mas quem anda em campanha para lançar semente, sabe que só pode colher se antes semear para o médio prazo. Só pode servir quem merecer o povo e a política não é economia...
Regressado a casa, depois de sentir, felizmente, a chuva, lá para as bandas do meu círculo eleitoral, e clicando nos telegramas das agências, logo verifiquei como o critério jornalístico escolheu, e muito bem, duas ou três pequenas frases de um crivo oportunista, a fim de entrar na corrente do "agenda setting", confirmando-se que, nestes domínios, como ensinou o teórico da aldeia global, importa mais o "medium" do que a "mensagem". Mas não me queixo. Sei perfeitamente quais são as regras do jogo. E até reconheço como outras podem ser as perspectivas da imprensa regional, mais atenta ao olhos nos olhos, ao estilo das pessoas e ao pequeno-grande ritmo da vizinhança, do "small is beautiful". E a democracia precisa cada vez do multidimensional e da pluralidade de pertenças.
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