O dia a cair dentro de mim
nesta quieta, melancólica, bucolia
de um país de pinhais em dias de verão...
Deitar-me no chão seco de caruma
e sorver o sol que os ramos filtram.
Sabe tão bem a tarde calma,
sabe tão bem sentir assim
o dia a cair dentro de mim
neste vale onde se ressente
o fogo lento do sol poente.
(no fundo da ravina, há uma ribeira,
água brava rompendo as pedras;
há uma serena mistura
de prados verdes e fria sombra,
uma vegetal, aquícola paisagem
feita de húmus e bruma).
Aqui no fundo entre dois montes
esqueço os barulhos que apetecem não ouvir
e vou escolhendo apenas o sossego
dos sons que me diluem:
sobretudo, o gorjeio de um passarinhos
que, de ramo em ramo,
no rumor das árvores me concentra.
E lá ao longe, no mais fim do dia,
há também brônzeos sons de um sino
que metálicos me transportam
pela memória do tempo.
É minha terra de menino
marcando em mim as horas
sou eu próprio que regresso
à pátria da minha infância
ao sonho de que sou projecto
Na tarde calma, esqueço quem fui
e assimdolente me dissolvo
no mistério dos dias que já não há.
<< Home