A tripa do sistema e os maquiavéis de cordel
Não há nada menos adequado à verdadeira política do que os actores políticos do sindicato dos políticos profissionais que vamos tendo, ou que o querem ser, de acordo com as presentes regras do jogo, essa gente fabricada nas jotas que tem como objectivo o aparecer sempre no palco do mediático, desde a campanha de feira aos fantásticos minutos de um telejornal que lhe dê a ilusão de fama.
Tal tribo, viciada no aparecer, de tanto aparecimento ou procura de aparecimento, passou a ser o seu próprio parecer, deixando de efectivamente ser. Porque mesmo quando resiste em esporádicos assomos de autenticidade, a droga mediacrática que a transformou em tripa do sistema, obriga-a a renunciar ao próprio sentido moral último que a livraria do do remorso.
Mesmo quando tem momentos de madura reflexão, que a poderiam levar ao justo exílio eterno, ei-la que, contabilizando a fama, chega à conclusão que, neste mundo cão da politiqueirice circense, parar é morrer.
Eles são eternas vozes que ecoam e em quem já ninguém confia. A não ser um grupo de dois ou três fiéis, iguais aos ditos, com quem eles vão contratando a ilusão de serem e não serem, nesse circuito infernal dos maquiavéis de cordel, que passam da imagem à sondagem e acabam sempre na sacanagem.
E a pobre democracia se vai assim perdendo nestas personalizações mediáticas do sobe e desce, onde entram líderes e ex-líderes, autarcas e autarcáveis, presidenciais e presidenciáveis, bem como tartufos e pompadours. É natural que este conúbio de politiqueiros e jornaleiros, fadistas, empresários e vigaristas acabe por gerar o seu próprio grão-mestre da sedução, num universo onde também já circulam magistrados, assessores e malabaristas. Para que o sistema continue e esperança definhe.
A velha terceira república, nascida do antifascismo, feita de antifascismo, respirando antifascismo por todos os poros, mesmo que tenha a colaboração de ministros e secretários do fascismo, lá vai cantando e rindo, de vitória em vitória, até à derrota final. No fundo, no fundo, poucos dariam a vida para defender a dita. Porque ela corre o risco de perder sentido e de apenas resistir porque não tem alternativa.
<< Home