Esta liberdade a prazo certo, onde apenas nos preparamos para o infinito
Imagens picadas em Platero a quem agradeço a interacção
Dói não dizer tudo quanto me apetece dizer e não consigo dizer. A força de ser e sentir-me vivo, nesta cósmica integração na minha própria fundura, quando apetece uma viagem sem regresso ao destino que devo cumprir, mesmo quando já disse tudo o que o corpo permite. As baías fundas de um porto seguro, o íntimo grito que me fez ser voo do próprio pássaro que sonho e que me deu asa para voar para além do que eu próprio sou. Apenas tento aprisionar os pensamentos que sustentam a liberdade de quem sou, mas não consigo desvendar neste caderno as coisas simples de que é feito meu ser.
É preciso que contemos as coisas simples que resistem à dor do tempo. É preciso dizer que vale a pena viver a vida de todos os dias, esta liberdade a prazo certo, onde apenas nos preparamos para o infinito.
Logo, aprisionar a felicidade que nos aconteça é bem melhor do que corrermos contra o inevitável do tempo, do que nos desfazermos nessa procura dos pequenos nadas, nessas ilusões de uma vertigem que nos conduza ao desencanto.
Neste puro prazer de sentir a caneta a deslizar no papel e trincando uma maçã na solidão da noite, vou sentindo o marulhar dos pinheiros e o brilho das estrelas. E vou sulcando livre em meu destino, mesmo que seja contra quem sou, vou continuando nesta procura de estar vivo, de sentir que posso ser mais.
Mesmo aqui e agora, nesta força da terra úbere, na sanguínea paisagem que nos dá a profundidade cósmica da criação.
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