a Sobre o tempo que passa: Finalmente, há boas notícias!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

30.8.05

Finalmente, há boas notícias!



Finalmente, há boas notícias: entre presidentes de câmara, vereadores e membros de assembleias municipais e de freguesia, vamos eleger 43 489 autarcas, o equivalente à população do concelho de Sesimbra, e quase o mesmo número de professores, ou de licenciados candidatos a professores que ficaram por colocar. Mais do que isso: segundo um estudo do Banco Mundial basta eliminarmos a corrupção para triplicarmos o rendimento "per capita" e colocar-nos ao nível da Finlândia.

Por isso é que todos esperam o regresso de D. Sebastião Soares ou de D. Sebastião Cavaco, que o furacão Katrina não desembarque na praia da Junqueira em manhã de nevoeiro e que não volte a ser publicado nenhum estudo do "El Pais" sofre os nossos incêndios. Com efeito, em Portugal já não há maquiavelismo de salão, sindicalismo do elogio mútuo, persiganga, jagunçada e saneamentos. Porque esta gaseificada passagem do estado cardinalício para a liquefeita postura de sereno e suprapartidário presidenciável constitui a justa homenagem à eterna conspiração de avós e netos que nos continua a fazer apetecer o exílio.

Apenas recordo o que foi proclamado em Novembro de 2004 por um dos nossos mais notáveis presidenciáveis, quando estava no poder um governo que lhe não era afecto:

Primeiro
"É preciso restituir a voz aos cidadãos, se quisermos evitar revoltas descontroladas ou rupturas que podem levar a aventuras, como aconteceu no fim da I República, dando lugar a uma ditadura obscurantista».

Segundo
«A integração na União Europeia defende-nos de aventuras militares, mas só uma consciência cívica nacional evitará outros perigos. Há uma opacidade na sociedade portuguesa que tem de ser varrida. Precisamos de mais honradez republicana».

Terceiro
« O ambiente social é de grande crispação. É visível a crise de confiança no Governo, oposição, partidos, instituições, justiça, políticos, educação, cultura ciência, saúde, segurança social, trabalho, medicina... é preciso sacudir a depressão».

Quarto
«Portugal encontra-se numa situação bem difícil, sem estratégia para o futuro, desorientado, perdido no seu labirinto político».

Quinto
O «polvo da corrupção que alastra os seus tentáculos no Estado, na sociedade, nos partidos e nas autarquias». Há que desencadear a «censura moral dos portugueses».

Sexto
«Acho que o sistema está a seleccionar, para baixo e para o mal, os políticos. Já me questionei porque houve, após o 25 de Abril, tantos políticos de excepção, moralmente inatacáveis, e agora só vemos figuras menores».

Sétimo
«Deixar correr o indiferentismo perante os abusos, as injustiças e as corrupções é o pior que pode suceder».

Oitavo
«Começou a criar-se uma osmose na sociedade portuguesa entre negócios fáceis e tráfico de influências que é muito preocupante».

Nono
«A justiça mostra-se incapaz de agir. As polícias sabem muita coisa mas só actuam por critérios pouco claros».«O processo da Casa Pia é numa vergonha nacional. Tornou-se numa máquina de fazer dinheiro para os media. A continuar assim a vida nacional, vamos assistir a revoltas e a um mal-estar incontrolável na sociedade»

Décimo
«Será necessária muita coragem e algum tempo para pôr cobro à situação», «mesmo no tempo da ditadura havia alguns casos conhecidos, mas não havia uma corrupção sistemática».