Uma guerra permanente contra o indivíduo. Recebido de M.T.C.R.
Imagens picadas em Lita Cabellut
Não sei como dizer da extensão real dos prejuízos que causou e continuará a causar a sufocação, na vida da maioria das pessoas em Portugal, provocada pelas ditas classes dirigentes dos nossos destinos em termos de direitos e deveres; provocada pela apatia endógena de um ajuntamento de estranho povo.
Nós somos o médio e o curto e longo prazo provocado por sucessivos governos incapazes de olharem para além dos seus umbigos, e para os dos seus amigos, em parceria de vácuo com restantes gentes.
Quem dirá de uma vez por todas das consequências irreversíveis que impunemente recaíram sobre um povo que até já alinha nos processos que conduzem à fatalidade de perderem a nação que existia dentro dele?
Em suma, quem pode medir as consequências da impossibilidade a que se chegou?
A que profunda impotência moral e espiritual toda esta castração tomou a dianteira e que levou e leva, a não conseguir conduzir, ao menos uma ideia, até ao dia de amanhã?
A entropia tornou-se a lei fundamental?
Já não há quem responda por responsabilidade histórica?
Tudo isto me parece a paz dos cemitérios.
Sempre pensei que a vida resistia a toda e qualquer uniformidade, e que a perspectiva era, a da diferenciação e não a uniformização. Mas, onde está a capacidade de resistência ao status quo? A inquietude, a busca do novo? A dimensão essencial do desenvolvimento?
Não tenho resposta para isto. A força do poder social que me rodeia é a do imobilismo que colhe aprovação unânime junto dos senhores do mando e dos senhores que o aceitam.
Também observo uma repugnância social por tudo o que é desconhecido, cimentando-se a praga da não teimosia ao status quo de que acima falei.
Prevalece o pensar mecânico assente na estratégia mesquinha de uma suposta vitalidade.
Não sei como se permite que o poder vá destruindo minuciosamente o sentido da vida. E sucumbe-se. Desconheço qual será e donde virá o golpe de misericórdia ou a ordem burocrática que feche, de jeito inequívoco, todo este manhoso e longo ciclo.
Quem dará a magnifica bofetada insolente na dita ordem estabelecida de há longuíssimos anos? Ninguém? Não, ninguém. A vida está anestesiada e o tempo e suas promessas, desapareceu do horizonte.
Creio que as pessoas se deixaram invadir pelo espírito do que não tem importância.
A amizade e a solidariedade são medidas a gramas em qualquer açougue.
Falta a vergonha que nem se esbarra na ausência do seguro companheirismo, o que leva inevitavelmente a profundas crises na vida privada; à descrença do que com mimo sustentávamos como seguro.
A vontade de cada um é gerida pelo planificador de serviço que controla os pseudo-acontecimentos, tudo ao sabor de um vento fabricado por ventoinhas de ar roto.
Os governantes e os governados agarram-se a insignificantes rotinas de mais do mesmo, dando a impressão de um movimento com pitadinha de falsa história que se fina no segundo seguinte.
Intrigas de bastidores na vida das gentes anãs, conflitos nos aparelhos partidários, rivalidades pessoais, corridinhas de 20 metros para cortar a meta de um qualquer poder, tudo, constitui a amálgama da mesma farinha que nunca dará pão.
Não se permutam instantes de verdade por paixões envenenadas.
Receio pelo preço que já se paga pelas obstruções à vida, pelo deitar fora do desespero de cada um, enquanto as termiteiras desta nossa sociedade, actuam em congestão digerida a título individual como se se encontrassem inseridas de pleno direito, numa colectividade histórico-social.
As intenções do sistema são ele próprio.
A guerra contra o indivíduo é alternada com as tréguas que o sistema lhe concede enquanto se mostre necessário que o individuo o sirva.
Há que negar o indivíduo como princípio, como intenção. Há que produzi-lo como aparência.
Assim, gostava que neste calendário sem profeta, mas ao qual se adapta o bloco da vida monolítica em dimensão de mínima arena, gostava, dizia eu, que algures ficasse escrito que eu tornei a pedir a palavra, em nome próprio.
M. T.C.R.
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