a Sobre o tempo que passa: Sebastião da Gama, Grócio, mar sem fim, endireitas e férias pascais

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

10.4.06

Sebastião da Gama, Grócio, mar sem fim, endireitas e férias pascais

Reparo que hoje, dia dez de Abril, tenho de comemorar a data de nascimento do meu poeta, Sebastião da Gama (1924), esse paradigma do professor que me ensinou a peregrinar por tudo quanto era "Serra Mãe". Apenas digo que tenho a idade do filho que ele nunca teve.

Aliás, nesta data, também nasceu Hugo Grócio (1583), que alguns qualificam como fundador do direito internacional ainda actual, esse protestante das Províncias Unidas cujas teorias serviram para que em nome do "mare liberum" se fechasse o ciclo de um dito "mare clausum", nomes eruditos que significam apenas o triunfo do imperialismo dos protestantes contra o imperialismo dos católicos ibéricos. Curiosamente, as novidades do autor são quase todas assentes em citações de tomistas e neotomistas católicos, mas os editores protestantes das respectivas obras preferiram censurar tais referências, repetindo o que a censura católica do "nihil obstat" praticava.

Por mim, prefiro o mar sem fim que é português, porque compreende o imenso e impossível oceano. O que, largando dos mediterrâneos, ou mares interiores, vai do Atlântico ao Índico e circum-navega o Pacífico, à procura do abraço armilar.

E para que o dia se feche em efemérides, marquem-se também, nesta data, a carta de lei que cria a Caixa Geral de Depósitos (1876) e a constituição da União Liberal Republicana (1926), um pouco antes do 28 de Maio, dequem os principais líderes do novo partido quiseram ser o espírito, desde Francisco da Cunha Leal a Bissaya Barreto ou Duarte Pacheco, para misturarmos opositores, aliados e activistas do salazarismo.

Já agora, uma nota para duas efemérides do dia 8, anteontem, que não assinalei: o surgimento da revista "Nação Portuguesa" (1914), órgão do Integralismo Lusitano, e do jornal "A Rua", de Manuel Maria Múrias. Ainda conservo na memória o primeiro número deste belo pasquim, onde o actual ministro dos estrangeiros deste governo socialista já se antevia a si mesmo: ele que era, então, o chefe dos "endireitas do Caldas" (Múrias dixit) atacava Salazar, considerando-o um socialista. Voltas que a marquesa do psicanalista dá...

Por mim, ando para aí a arrumar ideias para a conferência que, amanhã, dia 11, terei a honra de proferir como convidado na Real Associação de Lisboa, Espaço Chiado, pelas 18, 30 h, sobre os conceitos de consensualismo e absolutismo, onde tentarei recordar quem somos, donde viemos e para onde vamos. São assim as férias pascais de um professor, que logo terá de preparar outra, a proferir na Comisão de Ética da Assembleia da República, sobre ética e política, no contexto da relação entre opinião pública e mandato parlamentar, a emitir no dia 18, no Palácio de São Bento.