Tabus cavacais, pantanais guterristas, fugas de durões e estados de graça socráticos
Apenas para marcar a agenda e recordar que, hoje, 7 de Abril, data do nascimento de São Francisco Xavier, em 1506, e de Almada Negreiros, em 1893, também D. Pedro foi obrigado a abdicar de Imperador do Brasil (1831) e começou a conspiração de Saldanha contra os Cabrais, que vai dar origem à Regeneração (1851).
Já em 1921 surgia o "Diário de Lisboa" e, em 1983, no Algarve, numa reunião da Internacional Socialista, era abatido Issam Sartawi, coisa que levou a que recriássemos, quase à pressa, aquilo que são hoje os nossos serviços de informação.
Dos tempos que hoje nos circundam, apenas os tento digerir, em dor de solidão ou minoria. Anda meio mundo em bicos-de-pé e outro tanto de pé-atrás, dizendo que a culpa é sempre do outro que não nossa: do governo anterior, do regime anterior, do partido que estava, do partido que está, do chefe visível ou da oposição difusa.
Que manda quem pode e obedece quem deve, como dizia António Feliciano de Castilho, mas que quase todos interpretam de forma antiliberal, confundindo o dito com um "slogan" da propaganda salazarenta.
Para mim, é tudo mais simples: há falta daquilo a que metaforicamente se chama espinha. Porque o nosso colectivismo moral, de longas raízes inquisitoriais, recentemente pintadas de esquerdismo, ao variar de "ismo" conforme as modas que passam de moda, continua a cobardia de dizer que tem razão quem vence, fingindo que vale mais um pássaro na mão que dois a voar e que enquanto o pau vai e vem folgam as costas. Prefere o torcer da cobardia ao risco de quebrar e, cedendo à Corte, nunca vive como diz pensar.
O que é comum não é de nenhum, como era o lema das nossas aldeias comunitárias, mas que todos interpretam contra os bens públicos.
O problema da democracia e das instituições actuais está na circunstância de continuar a existir uma plurissecular má relação entre o Estado e o Povo.
Mantemos um Estado estrangeiro e não conseguimos fazer casar a honra com a inteligência.
Ainda não decepámos as raízes do mal autoritário, ainda não esprememos, gota a gota, aquele escravo que temos dentro de nós e que está sempre disponível para saudar a chegada do usurpador totalitário.
O micro-autoritarismo que um difuso subsistema de medo pós-salazarento deixou gerar nas instituições subestatais é a causa da falta de sentido que marca as larvares crises estatais que nos comandam e que levará a que, de um momento para o outro, o estado de graça dos Sócrates se afunde nos tabus cavacais, nos pantanais guterristas ou nas fugas dos durões.
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