Cenas da permanecente sociedade de corte, neste reino que já não há
Quem duvidasse do estado de graça do presente ciclo de coabitação do regime poderia, ontem, se tivesse o dom da ubiquidade, ter desfeito as respectivas dúvidas, ao fim da tarde, indo ao lançamento dos livros de duas personalidades do PS: o embaixador Seixas da Costa, sempre potencial ministro dos estrangeiros, e o secretário de Estado José Conde Rodrigues, sempre em diálogo com os chamados operadores judiciários. Por dever de antigo professor tive que preferir este último, não podendo comparecer no Centro Cultural de Belém, junto do antigo aluno e actual professor do ISCSP, o nosso embaixador em Brasília. Já li naturalmente "A Política sem Dogma", à procura do liberalismo de esquerda, onde concluí que, se me fiasse na argumentação, já nem eu poderia ser de direita.
Senti que, nos "halls" da Católica, sob a biblioteca de António Sardinha, estavam juntas todas as altas esferas pensantes do situacionismo. E o bailado provocou-me um daqueles sorrisos típicos dos observadores radicais, diante dos armadilhados terrenos da barganha, onde me foi dado ver um conselheiro de Cavaco em ameno triângulo com um ex-conselheiro de Soares e um presente conselheiro do Senhor Duque de Bragança, mas onde senti a falta de ilustres hierarcas do Grande Oriente Lusitano, apesar de não faltarem hieracarcas de outras ordens menos regulares, mas ditas regulares. A minha radical presença gerou, naturalmente, civilizadíssimos cumprimentos de quem se interrogou sobre a minha discreta participação no acto, demonstrando como nem sequer em diagonal deve ter passado os olhos pelo texto apresentado.
Quero, em primeiro lugar, agradecer ao autor as referências que me concedeu, evocando textos meus do século passado, alguns dos quais ainda nem sequer saíram do limbo da sebenta, quando, no velho palácio da Junqueira, trocávamos ideias antes e depois das aulas de um mestrado, donde fui obrigado a afastar-me, quando ilustríssimos inspiradores tal inspiraram, entre sussurros conselheirais e bancárias jantaradas, naqueles salamaleques típicos dos ineficazes assassinatos morais, quando a adjectivação diabolizante da teoria da conspiração não se adequa ao visado, que não é "opus", "copus", avental ou sacrista, como poderia constar da ficha das velhas ou novas pides, cujo quadriculado, pré-cibernético, não consegue conter a raiva dos homens livres.
Por isso sorrio quando recebo "inputs" de estratégia indirecta sobre a alta azáfama que reina entre os meus vizinhos conselheirais do Palácio Cor de Rosa, na sua profissional e quotidiana leitura da jornalada e, talvez, da blogagem, catando os inúmeros recados analíticos que podem ter como objectivo o "bunker" principal da actual coligação. Mesmo o que, hoje, o semanário "O Diabo" transcreve das minhas palavras sobre o CDS e o PSD apenas quer dizer o que soltamente penso, mesmo que erre.
Se consultarem no arquivo oficial a minha ficha da DGS, verificarão que sempre estive no mesmo sítio axiológico-político. As circunstâncias da conveniência e da oportunidade dos carreirismos é que se modificaram radicalmente, menos para quem faz contabilidade de ascensões e quedas. Sempre tive como máxima ambição política ser exactamente aquilo que sou e, neste tempo de homens lúcidos, tendo a lucidez de ser ingénuo, quando digo efectivamente aquilo que penso, engano sempre os que pensam que os outros dizem aquilo que não pensam, ou que vivem uma vida escondida face àquilo que proclamam. Por mim, continuo a tentar viver como penso e, por isso, não posso efectivamente ter de pensar como vivo. Até assino sempre o que quero comunicar. Mesmo em blogue.
<< Home