Entalado entre a esquerda e a direita em dia de conferência
Hoje, entre as efemérides, poucas me mobilizam, a não ser as da derrota dos miguelistas na batalha da Asseiceira, em 1834, ou as do assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, promovido por Palma Inácio, em 1967. Estou bem mais mobilizado por outras tarefas desta vida de professor, que não é professor do regime com direito a carimbo de subsídio ou serviçal daqueles que andam sempre com muito trabalho pelas avenças e pareceres sobre a vida dos outros, em tarefas de avaliação. Como ainda não cheguei aos setenta anos, ainda não tenho idade para ser investigador e sacar fundos do Estado para o efeito. Como ainda não cheguei aos oitenta, ainda não tenho idade para avaliar os outros. Apenas tenho que ir daqui a pedacinho dar uma perlenga na Academia Militar, sobre a crise da democracia representativa face ao desafio da chamada democracia electrónica, esse novo novo que damos ao D. Sebastião da tecnopolítica, esquecidos que estamos de Lenine, quando este proclamava que estava a chegar a tal soma de marxismo mais electricidade, a que chamou comunismo e que morreu por causa do Lyssenko, dos transístores e de Norbert Wiener.
Curiosamente, entre as coisas que, em anexo, tentei achar, na pesquisa, foi a de procurar saber se temos sido governados à esquerda ou à direita desde 1820. Considerando os critérios do primado do executivo e despotismo ministerial (1); violências do situacionismo e do reviralho (2); e grau personalização do poder (3), para um lado, e os das eleições abrangentes (1); autonomia dos grupos da dita sociedade civil (2); e da admissão de oposições políticas (3), para o outro, reparei que o boneco obtido era o que reproduzo. Vou continuar a escrever sobre isto.
Poderei assim dizer ao Senhor Primeiro Ministro que tem mesmo de se preocupar com as ondas da esquerda e não apenas na América Central e do Sul, onde o presidente da Bolívia se meteu com bens de espanhóis e brasileiros, mesmo com Madrid e Brasília a terem governos mais à esquerda que o de Lisboa. Até porque aquele que provisoriamente gere a tal cabeça do nosso Estado não é propriamente mais à esquerda do que era o seu antecessor eleito, Barroso, tanto em genealogia antifascista como em práticas de governo. Até porque o antecessor do seu amigo Lula, um tal Fernando Henrique, também não gostaria de ser qualificado como de direita, a não ser que, a Sócrates, sucedesse Louçã e este dissesse que o problema do país era não ter tido políticas sociais nos últimos cinquenta anos, talvez com saudades de Getúlio Vargas. Aliás, os getúlios e os peróns foram derrubados em nome da esquerda democrática e antifascista, amiga dos gringos, para verem suceder-lhes amigos de Kissinger... que não é propriamente barómetro que se siga quanto ao conceito de democracia.
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